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Relatório da CPI das Apostas pede indiciamento de tio de Paquetá e mais dois

11 de fevereiro, 2025

Documento será votado pelos parlamentares nesta semana; Bruno Tolentino, tio do meio-campista do West Ham, pode ser indiciado manipulação de resultado de jogos

Por Ivan Martínez-Vargas
— Brasília

Foto: Agência Senado 

O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas do Senado recomenda o indiciamento de Bruno Tolentino, tio do jogador Lucas Paquetá e dos empresários William Rogatto e Thiago Chambó Andrade por crimes relacionados à manipulação de resultados e jogos. O documento não recomenda o indiciamento de nenhum jogador de futebol.

O relatório, elaborado pelo senador Romário (PL-RJ) será lido na CPI nesta terça-feira e votado pelos senadores na quarta-feira. A CPI chegou a convocar Lucas Paquetá e a influenciadora Deolane Bezerra, mas não recomendou o indiciamento deles.

Paquetá, meia do West Ham, é alvo de uma investigação na Inglaterra por supostamente ter se envolvido na manipulação de jogos do campeonato inglês.

A CPI decidiu não pedir o indiciamento de Bruno Lopez porque o ex-jogador, apontado como um dos chefes da máfia de manipulação de jogos no futebol brasileiro, assinou um acordo de não persecução penal feito com o Ministério Público.

O relatório pede o indiciamento de Tolentino, que ficou em silêncio ao ser convocado pela CPI no ano passado, pelo crime de dar ou prometer vantagem para alterar o resultado de uma competição esportiva. A pena prevista varia de dois a seis anos de prisão.

A CPI quebrou o sigilo bancário do tio de Paquetá e verificou que ele pagou R$ 30 mil ao jogador Luiz Henrique, ex-Botafogo, que recebeu cartão amarelo suspeito quando era jogador do Betis, na Espanha, em 2023. O pagamento teria sido feito “por sua participação em manipulações”, de acordo com o relatório.

William Rogatto, que em depoimento confessou aos parlamentares participar de esquemas de manipulação de jogos, e Thiago Chambó, também são alvos da CPI, que pede o indiciamento de ambos por suposta fraude no resultado de competições esportivas e de prometer vantagem para alterar o resultado de jogos. Somadas, as penas dos dois crimes podem chegar a 12 anos de detenção.

Rogatto foi preso pela Interpol em novembro de 2024, em Dubai. Ele já foi alvo, também, da Operação VAR, da Polícia Civil do Rio, que investiga a manipulação de resultados da Série B do Campeonato Carioca. O empresário, conhecido no mundo das apostas esportivas como “Rei dos Rebaixamentos”, confessou aos parlamentares o envolvimento em uma operação de manipulação, tendo acusado uma série de dirigentes do futebol de envolvimento nos esquemas, sem apresentar provas.

À CPI, Rogatto afirmou ter faturado cerca de R$ 300 milhões com manipulações de resultados que culminaram em 42 rebaixamentos de clubes, em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, e em nove países. O mais recente dos esquemas teve como alvo o Santa Maria, clube do Distrito Federal que marcou apenas três pontos no campeonato estadual de 2024 e foi rebaixado. A presidente do clube, Dayana Nunes, também depôs nesta terça-feira.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) aponta Rogatto como chefe do esquema e responsável por influenciar em pelo menos dois jogos do campeonato. O empresário assumiu o cargo de gestor do clube candango, oferecendo garantias de que montaria uma equipe competitiva para o Estadual, mas teria convencido jogadores a adulterarem resultados para prejudicar o clube deliberadamente com vistas a lucrar com apostas esportivas. Rogatto é alvo Atualmente, ele é das operações Fim de Jogo, do MP-DFT, e Jogada Ensaiada, da Polícia Federal.

No caso de Chambó, o relatório também cita o crime de desobediência a ordem judicial, porque o empresário recusou-se a prestar depoimento. O empresário foi alvo da Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás em 2023 e está preso. Ele é acusado de fazer parte do núcleo dos financiadores do esquema de manipulação, sendo responsável por levantar o dinheiro usado para aliciar atletas.

Bruno Lopez chegou a afirmar à CPI que Chambó oferecia e negociava repasses aos jogadores que topassem participar de esquema e que o valor pago “chegava a R$ 70 mil por cartão amarelo; expulsão e pênalti, (poderia chegar ) a R$ 150 mil”.

Se aprovado, o relatório da CPI será encaminhado ao Ministério Público e à Justiça. O advogado Leonardo Ruiz Machado, sócio do escritório Viseu, ressalta que as autoridades podem ou não acatar as recomendações da Comissão Parlamentar de Inquérito. Machado ressalta, ainda, a ausência de jogadores nas conclusões da CPI.

O GLOBO entrou em contato com os advogados que representam Bruno Tolentino e Thiago Chambó para ouvir a versão dos empresários, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. A defesa de William Rogatto não foi localizada.

https://oglobo.globo.com/tudo-sobre/esporte/noticia/2025/02/10/relatorio-da-cpi-das-apostas-pede-indiciamento-de-tio-de-paqueta-e-mais-dois.ghtml

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