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Quer um salário justo? Veja como negociar durante a seleção de emprego
Quer um salário justo? Veja como negociar durante a seleção de emprego
Especialistas dão dicas para tentar chegar a um acordo com empresa pretendida
Foto: Agência O Globo
Por Marcos Furtado
Negociar o salário durante um processo seletivo pode parecer uma tarefa intimidadora, mas é uma etapa crucial para garantir que a remuneração reflita seu verdadeiro valor profissional. Mais do que discutir números, essa conversa é uma oportunidade para alinhar expectativas, demonstrar seu potencial e estabelecer uma relação transparente com a futura empresa.
Após quase 11 anos na mesma companhia, o especialista em Recursos Humanos Jefferson Cordeiro precisou passar novamente por processos seletivos, nos quais a discussão sobre a pretensão salarial esteve presente:
— Quando você está há muito tempo numa empresa, seu salário acaba sendo mais elevado do que o valor que o mercado está praticando. No início desses processos seletivos, minha expectativa era mais alta, e a empresa me oferecia um salário menor.
Na negociação inicial não houve acordo, e Cordeiro chegou a desistir da vaga. No entanto, após uma nova conversa, a companhia ofereceu uma ajuda de custo que, somada ao salário, alcançou a expectativa do trabalhador:
— A empresa enfrentava dificuldades para preencher a vaga por ser numa região mais afastada. Negociamos uma ajuda de custo que, somada ao salário, atendia às minhas expectativas.
Situações assim são comuns, e Evelyn Rodrigues, líder de Recursos Humanos do escritório Paschoini Advogados, destaca que a proposta inicial nem sempre reflete desvalorização. Para ela, é fundamental avaliar se a empresa oferece um plano de carreira estruturado e as reais possibilidades de crescimento:
— Nem sempre o valor ideal será atingido logo no início, mas o mais importante é enxergar se existe um caminho claro para a evolução e a perspectiva de valorização.
A especialista listou dez dicas — que podem ser conferidas abaixo — de como se preparar para negociar salários durante processos seletivos.
Embora incentive o diálogo, Evelyn orienta sobre o momento certo para entrar na negociação salarial:
— O ideal é quando a empresa demonstra real interesse em sua contratação.
Com um mês no novo trabalho, Cordeiro conta ainda sobre seus aprendizados nas seleções:
— Recomendo pesquisar os salários das vagas e considerar os benefícios oferecidos, como home office, tíquete-alimentação e bônus, que também impactam a remuneração total anual.
Uma boa conversa
O gerente de suprimentos Luciano Dias, de São José dos Campos (SP), decidiu abrir mão de um contrato com carteira assinada em sua última contratação. Com 50 anos e mais de três décadas, ele optou por atuar como pessoa jurídica (PJ), em troca de uma remuneração maior. A mudança foi negociada durante o processo seletivo.
— A vaga era CLT, mas existia a possibilidade de ser PJ. Eu já tinha feito os cálculos e sabia quanto gostaria de ganhar nessa modalidade. Quando a empresa veio com uma oferta um pouco abaixo, fiz uma contraproposta — explica.
A estratégia deu certo. A empresa não apenas aceitou o modelo PJ como converteu os valores de benefícios, como plano de saúde e vale-refeição, no pagamento mensal de Luciano. O montante final superou o que ele esperava inicialmente.
— Sempre uso uma estratégia: deixo a empresa falar primeiro sobre o salário. Se me perguntam a pretensão, devolvo com outra pergunta: “qual o valor previsto para a vaga?”. E, quando preciso dizer, falo um pouco acima do que quero, para ter margem de negociação.
Para chegar bem preparado, Luciano buscou apoio de familiares que também atuam como PJ, estudou o mercado e consultou uma profissional especializada em recolocação de trabalho, Karla Clarinda. Ela ajudou a entender a média salarial.
— Costumo orientar profissionais a focarem na negociação durante a seleção em sua experiência de trabalho e formação, além de pesquisar quanto o setor está pagando naquela localidade — explica.
A especialista também orienta os candidatos a terem uma comunicação objetiva, diplomática e flexível. Isso pode ajudar a descobrir novas informações e até ampliar as possibilidades de negociação.
— Conheço um caso em que a pretensão salarial da empresa era de R$ 10 mil, mas o profissional percebeu por meio da negociação que poderia barganhar um valor maior.
Dicas para negociação
Pesquisa de salário
Para ter mais segurança na hora de negociar o salário, o candidato deve pesquisar os valores pagos no cargo pretendido, levando em conta a região, o porte da empresa e o setor de atuação. Podem ajudar nesse levantamento sites como Glassdoor e Catho, que oferecem estimativas de faixas salariais.
Diferencial competitivo
Mais do que a experiência, é importante considerar quais atributos fortalecem o posicionamento na negociação salarial. Podem fazer parte do diferencial competitivo de um candidato suas certificações, conhecimento de outros idiomas, resultados concretos em empregos anteriores e habilidades comportamentais — trabalho em equipe, gestão do tempo e organização.
Faixa salarial flexível
Ter clareza sobre a remuneração desejada é fundamental, mas manter certa margem de negociação também faz diferença. Trabalhar com uma faixa salarial, em vez de um valor fixo, amplia as possibilidades de diálogo com a empresa e evita que a conversa fique travada logo nas etapas iniciais do processo seletivo.
Pacote de benefícios
Negociar salário envolve mais do que apenas o pagamento mensal. É comum que as empresas ofereçam outros benefícios, como bônus por desempenho, Participação nos Lucros e Resultados (PLR), plano de saúde, previdência privada, possibilidade de home office e até apoio para cursos e formações. Avaliar esses itens juntos ajuda a ter uma visão mais completa da negociação.
Remuneração variável
Especialmente em áreas de vendas, é frequente que a maior parte da remuneração seja das comissões por metas atingidas. Nesses casos, o valor mensal pode variar bastante. Por isso, entender como funcionam as comissões e as metas associadas pode ser tão ou mais importante do que focar apenas no salário fixo.
Troca de empresas
Para quem está em processo de mudança de trabalho, a transparência é fundamental. Caso seja necessário, informe o salário atual. Isso permite que o empregador compreenda o ponto de partida e justifique eventuais ajustes na oferta.
Início da seleção
Nas primeiras etapas do processo seletivo, o foco principal deve estar em demonstrar o valor profissional e o alinhamento com a cultura e os desafios do cargo. O momento mais adequado para iniciar a negociação salarial é quando a empresa manifesta interesse concreto na contratação.
Argumentos objetivos
Ao apresentar uma contraproposta salarial, é fundamental evitar abordagens emocionais ou baseadas exclusivamente em expectativas pessoais. O candidato deve evitar frases do tipo “Meu amigo com a mesma função ganha mais”. O ideal é ter colocações como “Com base nas minhas experiências anteriores e no levantamento realizado junto ao mercado, uma remuneração na faixa de R$ X a R$ Y está mais alinhada com a responsabilidade da função e as práticas do setor”.
Treinar a comunicação
A negociação eficaz depende de uma comunicação clara e assertiva, sem tom de imposição ou arrogância. Estar preparado para apresentar argumentos de forma calma e respeitosa aumenta as chances de sucesso.
Tempo para responder à oferta
Manter o profissionalismo é essencial ao receber uma proposta salarial, mesmo que o valor esteja abaixo do esperado. É importante agradecer pela oferta e solicitar um tempo para reflexão antes de apresentar a contraproposta.