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Justiça determina bloqueio de R$ 56,7 milhões de associação de advogados contratada pela Prefeitura de São Sebastião; entenda

6 de dezembro, 2023

Por g1 Vale do Paraíba e Região

(Foto: Petrobras/Divulgação)

O Tribunal de Justiça determinou o bloqueio de R$ 56,7 milhões da associação Núcleo Universitário de Pesquisas, Estudos e Consultoria (Nupec), que foi contratada pela Prefeitura de São Sebastião (SP) na disputa bilionária por royalties de petróleo contra Ilhabela, cidade vizinha.

No fim de novembro, uma decisão judicial determinou que o pagamento da prefeitura à associação fosse suspenso, após o Ministério Público apontar irregularidades na contratação.

A transferência, porém, foi realizada antes da decisão. Com isso, uma ação popular pedia a devolução do montante ou bloqueio das contas bancárias da Nupec – entenda abaixo.

Em decisão liberada nesta segunda-feira (4), o relator Cláudio Augusto Pedrassi, da 2ª Câmara de Direito Público, acatou o pedido e determinou o bloqueio das contas bancárias da Nupec e do advogado Vinícius Peixoto Gonçalves, até o valor de R$ 56,7 milhões.

A decisão determina ainda que o bloqueio aconteça pelo Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário (SisbaJud).

Foto aérea mostra o Tebar, o terminal de petróleo da Petrobras em São Sebastião, SP — Foto: Divulgação/ Petrobras
Foto aérea mostra o Tebar, o terminal de petróleo da Petrobras em São Sebastião, SP — Foto: Divulgação/ Petrobras

O que dizem os envolvidos

Em entrevista ao g1 por telefone, o advogado Vinícius Peixoto Gonçalves, que também é diretor da Nupec, informou que a associação ainda não foi intimada sobre a decisão de bloqueio de contas e recebeu a notícia com surpresa. A equipe pretende recorrer.

“Assim que for intimado, vamos analisar tudo e, obviamente, usar todas as nossas prerrogativas processuais, para poder esclarecer, à luz do direito e da boa prática, que o equívoco está em quem está propondo esse tipo de medida. Isso não nos inibe, vamos continuar lutando”, afirmou

Ainda segundo o advogado, ele e a associação consideram indevido o bloqueio determinado e acreditam que o judiciário foi induzido ao erro.

“Completamente indevido o bloqueio condicionado. Acho equivocado, tentam induzir a erro o judiciário, para que tentem punir aqueles que tentaram buscar o seu direito. A regra de remuneração é muito clara. Essa situação, acredito que foi uma indução a erro do judiciário”, disse Vinicius.

“Essa ação popular não foi pautada, é um ardil, isso me deixa chateado, mas temos que saber seguir em frente. Temos convicção que isso não perdurará. Espero que esse entendimento mude”, completou.

Por telefone, o advogado destacou toda a equipe técnica e multidisciplinar que a associação empenha para a realização do trabalho e disse que essas pessoas representam a prefeitura de São Sebastião no processo dos royalties.

“Todo o rol nesse trabalho, a gente está representando a cidade, representando o direito dela perante o judiciário. A correção de um direito desta localidade foi atendido e atingido através desse trabalho, é um trabalho árduo, basta ver esse tipo de medida proposta contra a gente. Imagina você ocasionar o bem para uma localidade e se tornar alvo de uma ação popular, um instrumento legítimo, mas muitas vezes mal utilizado. Acabamos sendo um alvo de uma disputa que não acredito ser da melhor forma conduzida”, declarou.

Prédio da prefeitura de São Sebastião; paço São Sebastião no litoral norte — Foto: João Mota/TV Vanguarda
Prédio da prefeitura de São Sebastião; paço São Sebastião no litoral norte — Foto: João Mota/TV Vanguarda

g1 acionou a Prefeitura de São Sebastião e os advogados responsáveis pela ação popular que pediu bloqueio das contas da associação, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.

Anteriormente, um dos advogado dos autores da ação informou que entende que a prefeitura não descumpriu a determinação judicial, mas argumenta que o órgão não deveria ter efetuado o pagamento.

“Caberia, a um bom gestor, que cuida e que zela pelo patrimônio público, no mínimo aguardar alguma pacificação, algum pronunciamento do tribunal ou aguardasse que não houvesse tanta controvérsia (antes de fazer o pagamento)”, disse o advogado Vitor Silva de Araújo.

“O que nos estamos tentando é julgamento o reingresso desses valores aos cofres públicos. Estamos pedindo, em um primeiro momento, que o Nupec devolva e aguarde um pronunciamento mais sólido da Justiça para receber. Não havendo essa devolução, nós estamos pedindo o bloqueio dos bens da empresa”, completou Araújo na época.

Já a Prefeitura de São Sebastião disse semana passada que como o pagamento foi feito no dia 28 de dezembro, dois dias antes da decisão de suspensão dos pagamentos, não havia qualquer impedimento judicial na data para realizar a transferência.

Ação popular

Uma ação popular movida na semana pedia a devolução de R$ 56,7 milhões ou o bloqueio de contas da Nupec, contratada pela Prefeitura de São Sebastião na disputa bilionária por royalties de petróleo contra Ilhabela.

O Ministério Público entrou com pedido de medida cautelar para tentar suspender o contrato e barrar os pagamentos. Em 30 de novembro, a Justiça proibiu a transferência do dinheiro ao Nupec, mas na sexta-feira foi descoberto que o pagamento já havia sido feito antes da decisão – leia mais detalhes abaixo.

A reportagem apurou que até quinta-feira (30), segundo o Portal da Transparência, o valor de R$ 56,7 milhões destinado a Nupec estava empenhado (reservado) pela prefeitura de São Sebastião. Ou seja, o dinheiro estava reservado, mas não havia nenhum pagamento de fato (veja imagem abaixo).

Empenho declarado no Portal Transparência. — Foto: Reprodução
Empenho declarado no Portal Transparência. — Foto: Reprodução

No entanto, na sexta-feira (1º), a informação foi atualizada no Portal Transparência, que aponta que o valor milionário já havia sido transferido para o Nupec no dia 28 de novembro (veja foto abaixo).

Transferência declarada no Portal Transparência. — Foto: Reprodução
Transferência declarada no Portal Transparência. — Foto: Reprodução

As notas fiscais referentes aos pagamentos são do dia 27 e mostram que o valor foi dividido em três parcelas: uma de quase R$ 54 milhões, outra de pouco mais de R$ 1,5 milhão e uma terceira de R$ 1,2 milhão.

Prefeitura de São Sebastião, SP — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Sebastião
Prefeitura de São Sebastião, SP — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Sebastião

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de São Sebastião disse que como o pagamento foi feito no dia 28 de dezembro, dois dias antes da decisão de suspensão dos pagamentos.

Por meio de nota, a Nupec, associação que recebeu o pagamento, informou que não foi intimada de qualquer decisão em sentido contrário aos pagamentos e que vai se manifestar somente após ser intimada.

Já o Ministério Publico informou que vai adotar as medidas judiciais para fazer cumprir a decisão do Tribunal de Justiça.

Fachada do MPSP em Caraguatatuba. — Foto: Reprodução/TV Vanguarda
Fachada do MPSP em Caraguatatuba. — Foto: Reprodução/TV Vanguarda

Entenda a disputa

A Nupec foi contratada pela gestão do prefeito Felipe Augusto (PSDB) em julho de 2022 por inexigibilidade de licitação.

O contrato detalha como “serviços técnicos profissionais em causas judiciais e administrativas que envolvam participações governamentais devidas pela exploração de petróleo e gás natural”.

Os honorários são de “20% incidente sobre o montante efetivamente recuperado ao município”. Esse montante foi definido pela justiça: R$ 1 bilhão, que já foi depositado para São Sebastião.

A ação foi movida por uma moradora, que alegou que a prefeitura dispõe de procuradores municipais e apontou que a Nupec é alvo de investigações pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e do Tribunal de Contas do mesmo estado.

No último dia 21, a ação popular foi julgada improcedente, com a fundamentação de que “a especialização profissional e a natureza singular do serviço hão de ser reconhecidas”. Apesar disso, a decisão diz que o pagamento deve ser feito apenas após o trânsito em julgado de decisão definitiva ou homologação de acordo.

No dia 23 de novembro, a Prefeitura de São Sebastião empenhou mais de R$ 56,7 milhões à Nupec. O MP então entrou nesta quinta-feira com um pedido de efeito suspensivo em que questiona a legalidade do contrato e pede que o pagamento não seja feito até julgamento definitivo sobre a legalidade do contrato.

Já nesta quinta-feira (30), a Justiça acatou o pedido do MP e determinou a suspensão do pagamento até que o recurso fosse julgado. Apesar disso, nesta sexta-feira (1º), veio a público que o pagamento já havia sido realizado pela prefeitura e uma ação popular foi movida para tentar reaver o dinheiro ou possibilitar o bloqueio de bens da associação que recebeu o pagamento.

https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2023/12/05/justica-determina-bloqueio-de-r-567-milhoes-de-associacao-de-advogados-contratada-pela-prefeitura-de-sao-sebastiao-entenda.ghtml

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