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Como investir nas big techs em tempos de guerra comercial
Empresas globais de tecnologia seguem com o apelo da disrupção, mas perderam valor com a onda de tarifaços
Foto: Flickr
Por Márcia Rodrigues
As 7 Magníficas, ou Magnificent 7 (ou Mag-7) é o termo que define o grupo de sete empresas de tecnologia que dominam o mercado de ações dos Estados Unidos. São elas a Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla. Tradicionalmente, são companhias que chamam a atenção dos investidores por causa do desempenho e das perspectivas de inovação e de disrupção.
Em 2025, o cenário internacional impõe desafios, com a intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China pressionando os resultados dessas gigantes da tecnologia.
Mas será que esse é um bom momento para investir nelas? E, se sim, qual o melhor caminho a partir do Brasil?
É HORA DE ENTRAR? TALVEZ, MAS COM ESTRATÉGIA
Para quem cogita aproveitar o momento de queda para entrar nas big techs, a recomendação é não ir com tudo de uma vez.
“A Nasdaq acumula uma queda de mais de 10% em 2025 por causa do tarifaço, mas empresas como Apple e Microsoft são resilientes, com forte geração de caixa”, comenta o CEO da 1 Time Invest, Guilherme Gomes.
Segundo Gomes, a correção recente pode representar uma oportunidade de entrada, mas é essencial montar posição aos poucos, fazendo preço médio.
Fazer preço médio é uma estratégia de investimento em que se compra o mesmo ativo em diferentes momentos, com valores diferentes, com o objetivo de reduzir o risco de comprar tudo de uma vez, no pico do valor negociado.
“O ideal é investir valores fixos por semana, quinzena ou mês, diversificando o preço de entrada tanto das ações quanto do dólar”, diz o CEO.
O especialista também alerta para os riscos. “O principal ponto contra esse tipo de investimento é a volatilidade. Em momentos como o atual, com guerra comercial e juros altos nos EUA, os papéis tendem a oscilar mais, o que pode assustar investidores conservadores”.
O QUE ESTÁ AO ALCANCE DO INVESTIDOR BRASILEIRO?
Apesar de as big techs serem empresas internacionais, investir nos seus papéis está cada vez mais acessível para brasileiros.
“Hoje é possível fazer isso diretamente na B3, por meio de BDRs [Brazilian Depositary Receipt ou Certificado de Depósito de Valores Mobiliários, em português] como AAPL34 (Apple), MSFT34 (Microsoft), M1TA34 (Meta) e GOGL34 (Alphabet)”, explica Ailton Marcolino, especialista em renda variável na Barsi Investimentos.
Esses papéis, detalha, representam recibos das ações negociadas lá fora e podem ser comprados com reais, por meio de uma corretora brasileira.
INVESTIMENTO PARA LONGO PRAZO
Além dos BDRs, os ETFs (Exchange Traded Fund ou fundo negociado em bolsa, em português) são uma opção prática e com diversificação embutida. “O IVVB11 replica o índice S&P 500, que inclui várias big techs. O TECK11 é focado em tecnologia”, diz Marcolino.
Ambos são negociados na bolsa brasileira e, segundo o especialista da Barsi Investimentos, indicados para o longo prazo, com um horizonte mínimo de dois anos. “Quanto maior o tempo e a quantidade de ações, melhor tende a ser a rentabilidade para o investidor”, aponta.
A remuneração dos BDRs ocorre por meio de dividendos pagos em reais, mas os valores podem oscilar devido às variações cambiais e à tributação no exterior.
Já os ETFs não distribuem dividendos. Portanto, o foco do investimento é sempre o crescimento patrimonial no longo prazo.
FUNDOS BRASILEIROS DEVEM ENTRAR NO RADAR
Jonathan Mazon, advogado especializado em governança e mercado de capitais, destaca ainda os fundos brasileiros com foco internacional, como o Trend Nasdaq 100 FIM IE e o XP Tech Giants.
“Eles permitem exposição a empresas de tecnologia com gestão profissional e, em muitos casos, aportes iniciais acessíveis”, afirma o especialista.
A liquidez, no entanto, costuma ser menor— com prazos de resgate que variam de 30 a 60 dias. As taxas de administração também devem ser observadas com atenção.
Há ainda a opção de investir diretamente nas bolsas americanas, por meio de corretoras internacionais, como Avenue, Nomad ou Passfolio. Nesse caso, o investidor precisa enviar recursos ao exterior e lidar com questões como tributação internacional e variação cambial, mas ganha maior autonomia e acesso a uma gama maior de ativos.
COMO MONTAR UMA CARTEIRA EQUILIBRADA
Mesmo sendo ativos com alto potencial de valorização, as big techs devem ocupar uma fatia limitada da carteira. “Para um perfil mais arrojado, alocar entre 10% e 15% da carteira em ações de tecnologia pode ser interessante, sempre respeitando os objetivos e o apetite ao risco de cada um”, recomenda Gomes.
Uma boa estratégia é combinar diferentes tipos de ativos para reduzir riscos. “Os ETFs oferecem diversificação imediata, enquanto os COEs (Certificados de Operações Estruturadas) podem ser úteis para quem busca proteção de capital no longo prazo”, afirma CEO da 1 Time Invest.
Segundo Gomes, os COEs normalmente exigem investimento mínimo entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, têm liquidez restrita e prazo de vencimento entre 3 e 7 anos.
Já os BDRs e ETFs costumam ter preços de entrada mais acessíveis e são indicados tanto para iniciantes quanto para investidores experientes. “Eles podem ser adquiridos diretamente pela B3, com liquidez diária”, explica Marcolino.
No entanto, é importante lembrar que não há isenção de IR para vendas mensais abaixo de R$ 20 mil, como ocorre com ações brasileiras.
BIG TECHS EM NÚMEROS
Mesmo com a instabilidade de 2025, algumas big techs acumulam ganhos expressivos nos últimos 12 meses. Confira o levantamento feito por Marcolino:
M1TA34 (Meta): -9,42% em 2025 | +27,59% nos últimos 12 meses
GOGL34 (Alphabet): -22,78% em 2025 | +19,61% nos últimos 12 meses
MSFT34 (Microsoft): -15,42% em 2025 | +5,76% nos últimos 12 meses
AAPL34 (Apple): -26,19% em 2025 | +35,12% nos últimos 12 meses
IVVB11: -13,68% em 2025 | +20,94% nos últimos 12 meses
TECK11: -18,16% em 2025 | +32,60% nos últimos 12 meses
O QUE LEVAR EM CONTA ANTES DE INVESTIR
Antes de aplicar em qualquer ativo ligado a big techs, é importante:
Avaliar o seu perfil de risco.
Definir o percentual de alocação em renda variável internacional.
Estabelecer um prazo mínimo de investimento, preferencialmente de médio a longo prazo.
Diversificar entre ativos como BDRs, ETFs, fundos e COEs, conforme objetivos e horizonte de tempo.
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