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Alto preço, falta de educação financeira e baixa confiança no setor são entraves para acesso ao seguro, diz Susep
Grupo de trabalho avaliou fatores que dificultam o maior acesso aos produtos de proteção
Foto: Getty Images
Por Rita Azevedo
A baixa confiança no setor segurador, o alto custo dos produtos de proteção, o desconhecimento sobre a importância do seguro e a falta de educação financeira estão entre os principais entraves para o acesso dos brasileiros ao seguro no país.
O diagnóstico é do grupo de trabalho da Superintendência de Seguros Privados (Susep), criado em 2024 para estudar o acesso ao seguro no país, e consta em relatório que será divulgado nesta sexta-feira pela autarquia.
Na avaliação do grupo, os preços elevados dos produtos tornam o seguro inacessível para as populações de baixa renda. Além disso, grande parte dos brasileiros desconhece os benefícios dos produtos e não compreende os contratos, que são muitas vezes técnicos e complexos. Experiências ruins, como negativas injustificadas de cobertura, também geram desconfiança entre os consumidores, mostra o documento.
Júlia Normande Lins, diretora de infraestrutura de mercado e supervisão de conduta da Susep e coordenadora do grupo, acredita que a falta de educação financeira é um dos pontos-chave para entender a baixa adesão ao seguro no país. “Isso afeta o desenvolvimento de outros mercados, mas acho que no setor de seguros a situação tende a se agravar. Isso porque, além de serem produtos mais complexos, ainda há uma visão do lado do consumidor de que o seguro é um gasto”, diz.
A assimetria de informações entre segurado e seguradora, que deve sempre existir, não será resolvida com a educação financeira, mas o conhecimento deve empoderar o consumidor, diz Lins.
“O segurado tem que saber o que está contratando e exigir os direitos quando encontrar algum problema
— Júlia Normande Lins, diretora da Susep
Outro ponto crítico que deve ser tratado para o mercado, afirma, é a questão da falta de clareza dos contratos. “São documentos com linguagem muito técnica. Os prazos e a própria regulação do sinistro devem ser melhor explicados”, afirma.
O plano é que as informações coletadas pelo grupo sirvam de subsídio para a criação da Política Nacional de Acesso ao Seguro. “A Susep vai refletir o que pode ser feito no âmbito da regulação e supervisão para viabilizar o acesso e a maior qualidade do produto, além de abrir uma porta para interagir com outras entidades de fora do mercado financeiro e segurador”, diz a diretora.
Entre as propostas criadas pelo grupo para ampliar o acesso aos produtos de proteção está a criação de campanhas educativas nacionais, capacitação em escolas e comunidades e a inclusão de programas educativos focados em mulheres de baixa renda.
Também é sugerido que sejam criados produtos inclusivos, como um plano que combine previdência e saúde, com benefícios fiscais para aliviar pressões sobre o sistema público, além de um seguro de vida universal.
Ainda do ponto de vista de produto, há uma proposta para a criação de seguros mais personalizados, como voltados para mulheres (com coberturas para licença-maternidade, menopausa, violência doméstica, PCDs e proteção à renda), para microeemprendedores e trabalhadores informais e para pessoas com deficiência.
Do lado das políticas públicas, as propostas incluem a criação de um fundo catastrófico para garantir estabilidade em situações de desastres naturais, o desenvolvimento de um seguro obrigatório para catástrofes climáticas, aumentando a proteção de populações vulneráveis e a redução de impostos e incentivos fiscais para produtos inclusivos e de baixo custo para a população de baixa renda.
Além de membros da Susep, participaram do grupo o Banco Central, os ministérios da Fazenda, da Agricultura e Pecuária, da Empreendedorismo e do Desenvolvimento Agrário e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A lista de 37 participantes inclui ainda entidades como a Anbima, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) e Instituto Brasileiro de Direito do Seguro (IBDS).