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Cupom da Vez: cuidado com o aplicativo que promete renda extra. Saiba como se proteger
Somente no Reclame Aqui, foram registradas 5.501 reclamações sobre a plataforma nos últimos seis meses, todas sem resposta da empresa
Por Caroline Nunes — Rio de Janeiro
(Foto: Agência Brasil)
Com a promessa de gerar uma renda extra, a plataforma Cupom da Vez ganhou popularidade nas redes sociais. No entanto, o sonho do valor a mais na conta pode se transformar em pesadelo, com usuários apontando a ferramenta como um golpe. Somente no site Reclame Aqui, foram registradas 5.501 reclamações nos últimos seis meses, todas sem resposta da empresa. Em abril deste ano, o site publicou um alerta sobre a fraude em seu blog.
Ao acessar a plataforma, o usuário é apresentado a uma página inicial com a imagem de um produto de marca conhecida e solicitado a inserir um código de desconto. Segundo o Reclame Aqui, o aplicativo exibe um saldo inicial que aumenta com a inserção do código.
Em seguida, o usuário é levado a fazer um cadastro, informando sua chave Pix, e-mail e telefone, além de pagar uma taxa de R$ 47 para desbloquear o saque dos valores acumulados. O pagamento é feito em uma plataforma que também exibe anúncios de outros aplicativos fraudulentos, segundo o Reclame Aqui, como Avaliador Premiado, Music Pix e Códigos Lucrativos.
Usuários relatam prejuízos
Ao tentar finalizar a transação, o usuário é induzido a instalar esses aplicativos, que podem causar danos financeiros e comprometer a segurança de dados pessoais. No Reclame Aqui, usuários comentam não ter recebido qualquer retorno financeiro, mas sim prejuízos.
Um consumidor de Curitiba (PR) relatou ter pago taxas de R$ 47 e R$ 37,90 e não conseguir acessar nenhum link, além de não conseguir contato com o suporte.
“Paguei uma taxa de R$ 47,00 e outra de R$ 37,90, mas não consigo entrar em site nenhum, link nenhum e app nenhum. O e-mail de suporte não funciona porque está fora do Office 365”, reclamou.
Outro usuário, de Itupeva (SP), afirmou que ao atingir quase R$ 2 mil para saque, foi cobrado uma nova taxa de R$ 97 e, em seguida, informaram que o valor mínimo para liberação do saque seria de R$ 5 mil.
“Agora para sacar, tem que fazer um valor mínimo de R$ 5 mil. No vídeo de divulgação não falam nada sobre o valor mínimo para saque. Me senti enganado. Só quero meu dinheiro de volta”, escreveu.
Caí no golpe, e agora?
Antonielle Freitas, advogada especializada em direito digital e proteção de dados do Viseu Advogados, recomenda que, diante de uma situação de golpe ou fraude, o consumidor formalize a denúncia. Ela cita que o consumidor deve buscar desde o Procon e Delegacias Especializada em Crimes Cibernéticos até mesmo acionar o Ministério Público (MP).
— Além de registrar a reclamação em plataformas como o “Reclame Aqui”, os consumidores devem buscar canais oficiais, como o Procon de sua cidade, para formalizar a denúncia. Reclamações públicas fortalecem o histórico contra a plataforma e ajudam outros usuários a evitarem o golpe — explica.
Da mesma forma, o Procon-SP recomenda que o consumidor registre um boletim de ocorrência na delegacia e entre em contato com o banco ou a empresa de pagamento para “tentar recuperar ou mitigar o prejuízo”.
Consequências para a plataforma
De acordo com a advogada Antonielle Freitas as consequências para a plataforma envolvida em práticas fraudulentas podem incluir desde multas até o bloqueio do serviço:
- Responsabilização legal e multas: A empresa pode enfrentar multas administrativas impostas por órgãos como o Procon, caso confirmadas as infrações contra o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
- Suspensão e bloqueio: Dependendo da gravidade das irregularidades, a plataforma pode ser retirada do ar por determinação judicial ou por ação de órgãos reguladores.
- Ações judiciais e investigações penais: A empresa pode se tornar alvo de processos judiciais por consumidores lesados, além de ser investigada criminalmente por prática de estelionato.
- Danos à reputação: A repercussão negativa em plataformas como o Reclame Aqui e a mídia enfraquece a confiabilidade da empresa, impactando sua capacidade de operar.
Como se proteger
- Pesquise antes de utilizar: Verifique a reputação da empresa em plataformas como Reclame Aqui ou em grupos de redes sociais. Leia depoimentos de outros usuários sobre a experiência com o serviço.
- Desconfie de promessas muito atraentes: Ofertas que prometem ganhos financeiros fáceis e rápidos frequentemente são indicativos de fraudes.
- Proteja seus Dados Pessoais: Não compartilhe informações, especialmente dados como chave Pix ou senhas, com plataformas que não possuem confiabilidade comprovada.
- Prefira métodos de pagamento com proteção: Opte por formas de pagamento que ofereçam possibilidade de disputa ou estorno, como cartões de crédito, especialmente em compras on-line.
- Verifique dados legais da empresa: Consulte informações públicas sobre a empresa, como CNPJ, registro em órgãos competentes e termos de uso claros. Empresas que não dão informações legais ou têm termos confusos devem ser evitadas.
- No site do Procon-SP, há uma página chamada “Evite Esses Sites”, que lista endereços de sites que devem ser evitados, pois já tiveram reclamações de consumidores registradas e, depois de notificados, não responderam ou não foram encontrados.
Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que é responsável pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), não retornou até a publicação desta reportagem.
O EXTRA tentou contato com o Cupom da Vez, mas não obteve resposta.