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Construtora ‘quebra’ garagem de cliente em vídeo no TikTok e insinua calote, mas volta atrás; entenda
O registro alcançou mais de 1 milhão de visualizações, e muitos internautas saíram em defesa da empresa, chamando a cliente de “má pagadora”. No entanto, a história não era bem assim
Foto: Redes sociais
Uma empresa de construção no Reino Unido, a Kendall Contractors Ltd, gerou polêmica ao postar no TikTok um vídeo em que aparecia destruindo a garagem de uma cliente, com a legenda: “Não pode pagar? Nós vamos quebrar tudo.” O vídeo viralizou, alcançando mais de 1 milhão de visualizações na rede social, e muitos internautas saíram em defesa da empresa, chamando a cliente de “má pagadora”.
No entanto, a história não era bem essa. A cliente, que não teve o nome divulgado, havia pagado pelo serviço meses antes, e a demolição fazia parte de um reparo que já estava combinado, após danos causados por uma empresa de gás. O vídeo, na verdade, foi editado com ajuda de inteligência artificial para parecer que a destruição era uma punição por falta de pagamento.
“Eles fizeram isso apenas para tirar sarro e se aproveitar”, desabafou a proprietária em entrevista ao MailOnline. “Postaram o vídeo insinuando que eu sou alguém que não paga contas, mas essa não é a situação de forma alguma”. Ela também reclamou da exposição injusta: “Agora as pessoas acham que eu sou uma má pagadora. Isso me colocou em uma posição terrível.”
O caso reacendeu o debate sobre a exposição de clientes nas redes sociais, principalmente quando envolve informações falsas ou distorcidas. Para a advogada Amanda Cunha, especialista em Direito Civil e do Consumidor no escritório Paschoini Advogados, a situação seria gravíssima se acontecesse no Brasil.
“Divulgar um vídeo insinuando que um cliente não paga suas dívidas, sem qualquer comprovação e ainda usando de ironia, é uma conduta reprovável e potencialmente ilícita”, alerta a advogada. “Isso viola o princípio da boa-fé nas relações de consumo e atenta contra a imagem e a honra da pessoa.”
Ela também explica que o caso pode configurar dano moral. “A exposição de alguém como ‘má pagadora’ pode gerar constrangimento, humilhação e afetar até a vida profissional dessa pessoa. Mesmo que o tom seja humorístico, quando há uma informação falsa, os limites da ética e da legalidade são ultrapassados.”
Mesmo com o aval da cliente para a realização do serviço, a construtora não tinha direito de gravar e publicar o vídeo sem permissão. “A autorização para executar a obra não dá carta branca para filmar e divulgar imagens, muito menos de forma depreciativa”, afirma. “A Constituição e o Código Civil garantem o direito à privacidade e à imagem das pessoas.”
Questionada sobre as possíveis consequências legais, Amanda esclarece: “No Brasil, a cliente poderia buscar uma indenização por danos morais e materiais, além de exigir a remoção imediata do conteúdo e uma retratação pública. O caso também poderia ser enquadrado como difamação ou calúnia, dependendo das circunstâncias e da intenção da empresa.”
Após a repercussão negativa, a construtora excluiu o vídeo e publicou um novo post mostrando o serviço concluído, acompanhado de uma nota admitindo que a cliente havia quitado o pagamento integralmente e que a demolição era apenas parte de um reparo.