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Após lance bilionário, Aena terá que equilibrar Congonhas com aeroportos deficitários

20 de agosto, 2022

FONTE: AGÊNCIA ESTADO

Por Juliana Estigarríbia e Elisa Calmon

São Paulo, 18/08/2022 – A 7ª rodada de concessão de aeroportos foi marcada pela entrada da XP no setor e pela proposta bilionária da espanhola Aena pelo lote de Congonhas (SP), com um ágio de 231%. Agora, o conglomerado de infraestrutura desponta como uma das maiores operadoras privadas de aeroportos do País, com o desafio de tornar a concessão sustentável em meio ao elevado número de terminais deficitários do bloco.

O lance da Aena causou surpresa no salão principal da B3. A outorga mínima estabelecida era de R$ 740,1 milhões. A espanhola foi a única a oferecer proposta, de R$ 2,45 bilhões. Agora, o grupo de infraestrutura passa a operar 17 aeroportos no Brasil, sendo 11 somente da 7ª rodada, espalhados pelos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará e Minas Gerais. O investimento previsto para a concessão é superior a R$ 5 bilhões.

“Queremos contribuir para o desenvolvimento aeroportuário do Brasil. O País é parte importante da nossa visão estratégica de expansão internacional”, afirmou a diretora internacional da companhia, Maria Rubio.

O mercado já vinha esperando baixa competição pelo bloco de Congonhas, em meio a um cenário macroeconômico desafiador e de incertezas políticas. A CCR, principal operadora de aeroportos de grande porte do País, desistiu de última hora de participar do processo. Neste sentido, a proposta da Aena surpreendeu.

“O valor do ágio surpreendeu, mas Congonhas é muito rentável. Se dentro desse bloco a empresa conseguir tornar os outros aeroportos minimamente rentáveis, inclusive pela aviação regional, a tendência é que a concessão se sustente, a Aena já conhece o mercado brasileiro e tem outros ativos no mundo”, avalia o sócio de infraestrutura e especialista em aviação do Machado Meyer Advogados, Fabio Falkenburger.

Para o sócio da prática de Direito Público e Regulação do Escritório Lefosse, o certame foi um sucesso. “O leilão foi conduzido de maneira eficiente pela Anac e a Aena conseguiu o indeferimento de todas as medidas judiciais que tentavam suspender o processo”, afirma o advogado, que fez parte da equipe do escritório que assessorou a Aena no leilão.

Para o sócio da consultoria Radar PPP, Guilherme Naves, a participação de apenas um proponente na disputa pelo bloco indica que, no geral, o mercado fez uma avaliação mais conservadora dos ativos em questão. “Mas este é um operador aeroportuário global, que inclusive já tem ativos no Brasil”, opina.

Em sua avaliação, é razoável esperar uma melhora na qualidade dos serviços e da infraestrutura do País com os investimentos contratados. “Mas nada disso acontecerá se a gestão do contrato não for levada a sério, e com rigor. O que nos resta, agora, é monitorar e fiscalizar as concessionárias para que as expectativas possam ser atingidas.”

sócio do Giamundo Neto Advogados, Luiz Felipe Pinto Lima Graziano, observa que embora os ágios de dois blocos tenham sido expressivos, a ausência de mais competidores tradicionais põe luz sobre o modelo de agregar ativos de diferentes perfis dentro de um mesmo bloco. “Isso acabou afastando muitos operadores. Nem sempre uma empresa capaz de operar um grande aeroporto está disposta a operar terminais deficitários e distantes entre si.”

Estreia

A XP estreia como operadora aeroportuária após ter arrematado o bloco de aviação executiva, composto pelo Campo de Marte (SP) e por Jacarepaguá (RJ), com um lance, sem ágio, de R$ 141,4 milhões. Segundo a empresa, a francesa Egis fará a operação do bloco do ponto de vista técnico em um contrato de cinco anos, o que está previsto no edital.

O negócio será feito através da XP Asset, gestora de recursos do grupo, que ao final de junho tinha mais de R$ 141 bilhões de ativos sob gestão. Segundo o head da XP Asset, Túlio Machado, o potencial do bloco de aviação geral vai além das receitas tarifárias. “Há potencial de exploração do segmento imobiliário.”

Ele afirma que a XP Asset tem um braço de imobiliário, que tem galpões logísticos, shoppings e lajes corporativas. “Foi uma análise conjunta entre as divisões de infraestrutura e imobiliário.”

Expansão

O executivo relata que a nova concessão de Congonhas permite que haja expansão onde atualmente há terminais de aviação executiva. “Acreditamos que uma parte do market share de Congonhas deva vir para o Campo de Marte, temos planos de deixar o aeroporto mais seguro (com voos por instrumentos)”, disse. “Acreditamos que as tarifas aeroportuárias vão aumentar.”

De acordo com Machado, o fundo de investimento em participações (FIP) em infraestrutura da XP Asset já participava do setor através de dívida em áreas como energia (transmissão e geração) e aeroportos (na 6ª rodada). “Esse fundo pode olhar o setor elétrico, saneamento, transportes e telecom, atuamos de forma bem abrangente em infraestrutura”, afirma o executivo. “Pretendemos investir em saneamento e outras áreas”, acrescenta.

Ele pontua que o fundo habilitado para participar do leilão realizou uma captação de R$ 305 milhões em julho. “Já temos recursos (para investimentos), mas devemos ir a mercado para (tomar dívida)”, esclarece.

O chefe da XP Asset se mostrou animado com os recentes testes envolvendo os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOLs, na sigla em inglês)(eVTOLs), conhecidos como “carros voadores”, no Rio de Janeiro. “Já existe uma operação muito forte de helicópteros no aeroporto de Jacarepaguá, vemos potencial para o desenvolvimento do eVTOL”,

Bloco Norte

Em uma disputa por viva-voz, o Consórcio Novo Norte, composto pela Socicam e pela Dix Empreendimentos, arrematou o bloco Norte II por R$ 125 milhões, um ágio de 119,7% em relação à outorga mínima estabelecida no edital, de R$ 56,9 milhões.

A briga aconteceu com a francesa Vinci, que opera o Aeroporto de Salvador (BA) e outros sete terminais arrematados na 6ª rodada, no ano passado. Ao final da disputa, executivos da Socicam comemoram no salão principal da B3 com gritos de euforia.

Após o leilão, o Ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse que a 8ª rodada de concessão de aeroportos, prevista para o ano que vem, depende muito do “ritmo de relicitação do terminal de Galeão (RJ)”.

“Estamos no processo de contratação da empresa que fará os estudos (da 8ª rodada), isso deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem. Depois começa o período de audiência pública, segue para o TCU e depois há a publicação do edital”, esclareceu. “Nossa expectativa é fazer o leilão no final do ano que vem, mas isso está muito vinculado ao ritmo de relicitação de Galeão, se houver algum atraso, esse cronograma pode ser ajustado”, acrescentou.

http://institucional.ae.com.br/cadernos/financeiro/?id=R0JTc3kvcWcwd3luN3g5MmMrUjNQdz09

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