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Loja ensina a lucrar com comércio de bombons por unidade e viraliza; entenda como funciona a venda fracionada
Prática também conhecida como venda a varejo tem regras que devem ser olhadas com atenção
Por Luana de Andrade
(Foto: Freepik)
A chamada venda fracionada, também conhecida como venda a varejo, é um direito tanto do consumidor quanto do comerciante e consiste em um modelo de negócio no qual um produto é vendido em quantidades menores do que seria em sua embalagem original, caixa ou lote. Do lado do comerciante, a venda fracionada pode funcionar como uma estratégia para facilitar a comercialização e aumentar o lucro em cima de determinados produtos. Um depósito de doces pode comprar uma caixa de pacotes de chiclete e vendê-los separadamente, por exemplo. Isso por que cada um dos itens possui código de barras e tabela informativa próprios.
No dia 7 de março, empreendedores da Joab Mercearia compartilharam um vídeo no TikTok com uma estratégia de vendas usada na loja. Na gravação, os empresários mostram uma caixa de bombons sortidos — do tipo que se encontra em supermercados — sendo aberta para venda unitária dos chocolates. A publicação, que alcançou mais de 580 mil visualizações, ainda conta com o cálculo feito pelo estabelecimento para aumentar a margem de lucro em cima do produto.
A caixa fechada é comercializada por R$ 13,50 na loja, mas cada bombom é colocado à venda por até R$ 1,25. Dessa forma, os empreendedores conseguem faturar R$ 16,50 com o mesmo produto, mas em outra modalidade de venda.
Para Pedro Luiz Batista Ferreira Junior, coordenador de pós-graduação nos cursos de Gestão Financeira do Senac EAD, a venda fracionada pode ser uma boa estratégia para empreendedores, especialmente em indústrias onde os consumidores têm preferências variadas e podem não querer comprar as quantidades preestabelecidas de um produto.
“No caso do bombom, por exemplo, oferecer a opção de comprar unidades individuais pode atrair consumidores que desejam experimentar diferentes sabores ou que têm um orçamento limitado para comprar uma caixa inteira. Além disso, a venda fracionada pode ajudar a aumentar as vendas totais, atingindo um público mais amplo que pode não estar disposto a comprar grandes quantidades”, aponta Junior.
O que considerar antes de fazer venda fracionada?
- Viabilidade financeira: o empreendedor deve calcular os custos associados à venda fracionada, incluindo embalagens individuais, processos de manuseio e possíveis reduções de lucro devido a margens menores por unidade vendida;
- Demanda do mercado: é necessário avaliar se existe demanda suficiente pelos produtos que o comerciante pensa em vender de forma fracionada. Para isso, uma estratégia é realizar pesquisas de mercado para entender as preferências dos consumidores e a concorrência existente;
- Logística e armazenamento: a empresa deve garantir que tem capacidade para armazenar e gerenciar estoques de produtos fracionados, além de garantir a qualidade e integridade dos produtos durante o manuseio e eventual transporte necessário.
Além disso, existem alguns cuidados legais que são indispensáveis para garantir que venda estará em conformidade com o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ricardo Motta, sócio responsável pela Área de Relacionamento com o Mercado no escritório Viseu Advogados e especialista em Direito do Consumidor, ressalta outros três tópicos:
- Informação e Transparência: De acordo com o CDC, é necessário que os consumidores recebam informações claras e precisas sobre os produtos que estão adquirindo. Isso inclui o preço, a quantidade, a composição e qualquer outro dado relevante. No caso de venda fracionada, isso significa que o consumidor deve ser informado sobre a quantidade exata do produto que está comprando, bem como o preço proporcional.
- Saúde e Segurança: Produtos que, ao serem vendidos fracionados, possam comprometer a saúde ou a segurança dos consumidores, provavelmente terão restrições à sua venda por meio desse formato. Por exemplo, medicamentos têm regulamentações específicas que podem proibir o fracionamento, a fim de evitar riscos à saúde.
- Normas Específicas: Certos setores podem ter regulamentações específicas que permitem, regulam ou proíbem a venda fracionada. É o caso da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do InMetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que podem estabelecer normas específicas para produtos sob sua jurisdição.
No caso dos bombons e outros produtos alimentícios, Motta diz que uma das principais regulamentações que pode impedir a venda fracionada é a exigência de rotulagem nutricional em todos os produtos. “A legislação sobre rotulagem nutricional no Brasil é estabelecida pela Anvisa, que determina as informações que devem constar nos rótulos dos alimentos, incluindo dados sobre valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras, fibras, sódio e outras substâncias relevantes, conforme Resolução RDC nº 429/2020 e a Instrução Normativa nº 75/2020”, explica.
Como definir o valor cobrado por unidade?
De acordo com Pedro Luiz Junior, do Senac, a definição dos preços cobrados por unidade deve considerar o custo unitário, a margem de lucro desejada, o preço de mercado e percepção de valor.
“Calcule o custo total da caixa de chocolates e divida pelo número de unidades contidas nela para determinar o custo por unidade. Adicione uma margem de lucro adequada ao custo por unidade para garantir que a venda fracionada seja lucrativa”, explica Junior.
Na sequência, é necessário analisar os preços praticados pelos concorrentes e produtos similares no mercado. A ideia é garantir que o preço por unidade seja competitivo e atraente para os consumidores.
Por fim, o empreendedor deve considerar como os consumidores percebem o valor do produto ao comprar uma única unidade versus uma caixa inteira. “A estratégia de precificação deve equilibrar o desejo de oferecer um preço acessível com a necessidade de manter a lucratividade do negócio”, conclui.
A reportagem de PEGN entrou em contato com a Joab Mercearia, mas não teve retorno até a publicação deste texto.