PORTFÓLIO
Arezzo e Soma: como fica disputa com rivais como Renner, C&A e Le Lis
Giuliana Saringer
Do UOL, em São Paulo
(Foto: Divulgação)
A fusão entre Arezzo e Soma criará o maior conglomerado de moda do Brasil, mas isso não vai afetar a concorrência — nem com empresas de departamento, como C&A, Renner e Riachuelo, nem marcas de alto luxo, como Le Lis. No entanto, a operação fará com que o novo grupo tenha mais facilidade na hora de negociar com fornecedores e adquirir novas marcas, devido ao seu tamanho e capital disponível, dizem especialistas consultados pelo UOL.
Fusão bilionária não leva a monopólio
- Não haverá um monopólio de mercado com a fusão, que concentrará mais de 20 marcas. Roberto Kanter, economista e professor de MBAs da FGV, especializado em varejo, afirma que a operação é positiva e que o grande concorrente das lojas de departamento são os sites asiáticos, como a Shein, que entram de forma mais agressiva no mercado com preços baixos.
- Hoje as marcas ligadas tanto à Arezzo como à Soma têm gestões independentes. Isso faz com que cada uma das empresas mantenha seu DNA. “As demais marcas do mercado mais pulverizado, como Osklen, Le Lis, algumas outras marcas cariocas e paulistanas de média e alta classe, não obrigatoriamente vão ser afetadas, porque o DNA do grupo [Soma e Arezzo] é as marcas serem individualizadas.”, afirma Kanter.
- A nova empresa representa uma parcela muito pequena do segmento de moda.
“A fusão das duas marcas deve resultar em uma empresa de R$ 12 bilhões, que se estima em 5% e 6% do mercado de moda. O mercado de vestuário é extremamente pulverizado, então o resultado dessa fusão se estiver entre 5% e 6% nada mais é do que uma Renner, não vai formar um grande monopólio.”
– Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores
- O mercado de moda tem muitos concorrentes e, por isso, a fusão não vai atrapalhar o mercado.Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), afirma que como o mercado é pulverizado e com grande concorrência de importações da China (mesmo que com peças de menor qualidade, segundo Angelo), a competição do setor não diminui com a nova empresa.
Maior capacidade de negociação
- A fusão criará uma marca com maior capacidade de negociação com fornecedores. Para o setor premium, o novo grupo será uma potência, para Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.
“No premium, a fusão cria um gap enorme entre essa nova companhia e todos os outros players do mercado. Como marcas, individualmente, têm concorrentes, exceto no calçado, que a Arezzo já era absolutamente dominante no premium, sem nenhum concorrente próximo em termos de estrutura e escala. Mas agora em moda feminina eles passam a ter uma musculatura maior no todo do grupo. “
-Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail
- Se a fusão for bem-sucedida, o novo grupo terá vantagens em relação aos concorrentes por ter uma estrutura maior. Algumas delas são ter capacidade de fazer mais fusões e aquisições no Brasil e no exterior, já que possuem instrumentos para escalar o tamanho do seu negócio, acesso a capital e capacidade financeira do próprio grupo.
“[O novo grupo] passa a ter mais escala, poder de fogo para tudo. Para sourcing [abastecimento], relacionamento com shoppings, expansão, inclusive internacional. Isso aumenta a competitividade de todas as marcas, porque passam a estar ancoradas em um negócio maior, mais robusto.”
– Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail
- O grupo Veste (ex-Restoque) é um concorrente direto do novo grupo. Fazem parte da empresa as marcas Le Lis, Dudalina, John John e Bo.bô. Serrentino afirma que as marcas têm um posicionamento um pouco diferentes do grupo Soma, mas competem pelo mesmo público.
Operação no Cade
- Todas as operações de fusões e aquisições são avaliadas pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O órgão avalia se as operações não vão comprometer a concorrência no setor, impedindo monopólios de empresas, por exemplo.
- Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que não há risco de a operação ser impedida pelo Cade. O que pode acontecer é que o Cade peça que alguma marca específica fique de fora da fusão, mas ainda assim o cenário é considerado improvável.
- Após o anúncio da fusão, as empresas precisam enviar um formulário ao Cade. Danilo Zanichelli, advogado especialista em fusões e aquisições do Abe Advogados, afirma que o Cade tem até um ano para avaliar todos os pontos necessários para determinar se a fusão pode ser feita ou não.
- Não dá para estimar quando o processo de fusão será concluído.
O que o setor diz
- O UOL procurou varejistas de moda para comentar o cenário de concorrência, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. Foram procuradas C&A, Renner, Riachuelo e Veste.