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Trump é bom ou ruim para o agronegócio brasileiro?

6 de dezembro, 2024

Trump é bom ou ruim para o agronegócio brasileiro?

Brasil já tem uma estratégia de diversificação de seus parceiros comerciais e, em um cenário com mais barreiras impostas pelos EUA, essa tendência poderia se intensificar

Por Rafael Ujvari

Com a vitória de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos, há grandes chances de o agronegócio brasileiro sofrer alterações significativas tanto de forma qualitativa quanto de forma quantificativa. Ou seja, essa vitória pode trazer oportunidades e desafios para o agro brasileiro. Tudo depende das políticas que Trump decidir implementar em relação ao comércio internacional e à sustentabilidade ambiental.

Isso se dá principalmente pelo fato de Trump, durante toda a sua campanha eleitoral, ter prometido que lutaria veementemente contra barreiras comerciais que considera “injustas”. Essas possíveis medidas protecionistas de Trump podem engrandecer ainda mais a disputa entre os EUA e o Brasil pela liderança na produção global de produtos, como, por exemplo, o biocombustível.

As promessas do presidente eleito dos EUA incluem também um plano econômico e comercial conhecido como “Trump Reciprocal Trade Act”, que consiste em medidas de reciprocidade para derrubar barreiras comerciais e priorizar os produtores americanos em detrimento de fornecedores estrangeiros.

Já no que tange às propostas de Trump para o setor agropecuário americano, podemos citar o corte de taxas e impostos da cadeia produtiva de alimentos e energia para reduzir a inflação, o encerramento do programa denominado “Green New Deal”, que trata-se basicamente de um acordo que impõe um conjunto de ações para criar um modelo econômico sustentável com menos emissão de gases, bem como a criação de várias políticas agrícolas aos produtos essenciais e melhorias em programas governamentais de preços mínimos e seguro de safra.

A flexibilização dos regulamentos ambientais por Trump pode reduzir custos para o agronegócio brasileiro no curto prazo, mas também intensificar críticas internacionais sobre o desmatamento da Amazônia e a gestão dos recursos naturais. A postura de Trump em minimizar questões ambientais pode ser vantajosa para alguns setores brasileiros, ao mesmo tempo aumentar as tensões diplomáticas entre os grandes países.

Outro ponto de suma importância é que Trump, por sua natureza política, apresenta maior volatilidade da moeda americana em relação ao real, o que afetaria as negociações do agro brasileiro.

Importante relembrar que, no primeiro mandato de Trump, a guerra comercial contra a China favoreceu significativamente as exportações de produtos brasileiros ao país asiático, uma vez que os importadores chineses tiveram que recorrer ao Brasil, em detrimento dos altos custos e barreiras administrativas dos EUA. Como retaliação, a China também impôs tarifas, principalmente a produtos como soja, milho e trigo. No entanto, recomenda-se cautela quanto a reprodução desse fenômeno positivo de 2018, uma vez que o cenário atual é bastante diferente economicamente e politicamente.

Durante sua Presidência, entre os anos de 2017 e 2021, Trump adotou políticas protecionistas, como tarifas sobre produtos importados, especialmente da China e da União Europeia, e uma retórica de “America First” (América em primeiro lugar), que priorizava os interesses econômicos dos estadunidenses.

Porém, no decorrer do primeiro mandato de Trump, as exportações brasileiras do setor agropecuário cresceram a uma média de 20% ao ano, com a China compensando a queda nas exportações dos EUA. Atualmente, o Brasil exporta mais para a China, com receitas anuais de US$ 63 bilhões para o mercado chinês, em comparação com US$ 35 bilhões exportados pelos Estados Unidos.

Por outro lado, é importante frisar que esse possível cenário de guerra comercial também poderá mudar de forma negativa. Basta Trump entabular um novo acordo comercial com a China que envolva a redução de tarifas ou aumento de investimentos em fábricas nos EUA, diminuindo a necessidade de produtos brasileiros, e os chineses diminuírem as importações de commodities.

Entre 2014 e 2023, os EUA, que seguem sendo o segundo destino das exportações brasileiras, compraram cerca de US$ 77 bilhões em produtos agropecuários, sendo que US$ 37 bilhões ocorreram durante o primeiro mandato de Donald Trump. No mesmo período, o Brasil importou apenas US$ 12 bilhões em produtos norte-americanos.

Os produtos exportados pelo Brasil para os EUA são bastante variados, incluindo itens como animais, cacau e seus derivados, café, carne, farinhas e ração animal. Em 2023, as exportações do Brasil para o mercado estadunidense totalizaram US$ 10 bilhões. O café, em particular, foi um dos principais itens, com o Brasil enviando 341 mil toneladas do produto, o que gerou US$ 1 bilhão em receitas. Além disso, o complexo sucroalcooleiro, composto principalmente por açúcar e etanol, exportou cerca de US$ 830 milhões.

O Brasil já tem uma estratégia de diversificação de seus parceiros comerciais e, em um cenário com mais barreiras impostas pelos EUA, essa tendência poderia se intensificar. O país deve reforçar seus laços com outras regiões, como a Ásia, a África e a União Europeia, além de expandir suas relações com o Mercosul e a América Latina.

É certo de que a ampliação do Brics poderia oferecer alguma alternativa para o Brasil em termos de diversificação de parceiros comerciais e proteção contra um ambiente global mais protecionista. O bloco tem se mostrado uma plataforma importante de cooperação econômica e política, com foco no fortalecimento das economias emergentes, redução da dependência de mercados ocidentais e construção de uma ordem econômica mais multipolar. A entrada de países como Irã, Arábia Saudita, ou até mesmo outros países da Ásia e África, aumentaria as exportações para esses novos membros, além do Brasil aproveitar a influência política para fortalecer sua posição internacional.

Dessa forma, o Brasil independente das medidas protecionistas de Trump, provavelmente buscará diversificar suas parcerias comerciais para reduzir sua dependência dos EUA e minimizar os efeitos negativos sobre sua economia.

Tendo em vista que todo esse cenário aqui apresentado ainda é muito incerto, precisaremos esperar para termos a certeza de que lado Trump seguirá em suas práticas políticas. O impacto no agronegócio brasileiro depende muito de como o contexto internacional e as políticas dos EUA se desenrolem durante seu governo. Embora haja potenciais ganhos comerciais, especialmente com a redução de barreiras e tarifas, os riscos relacionados ao protecionismo, à instabilidade econômica e às questões ambientais são fatores que podem afetar, no longo prazo, o agronegócio brasileiro.

Rafael Ujvari é especialista em Direito Tributário e Compliance Fiscal do escritório Briganti Advogados. 

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/trump-e-bom-ou-ruim-para-o-agronegocio-brasileiro.ghtml

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