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Startups: o fim da lua de mel e a luta pela sustentabilidade

14 de novembro, 2022

Um dos principais temas ligados ao mundo corporativo da inovação e do empreendedorismo na atualidade é a efetiva sustentabilidade das startups, e o quanto a maioria delas estaria sabendo lidar com os diversos aspectos da criação e da gestão de negócios no mundo real – especialmente aquelas que apostam no futuro, sem guardar relação com a realidade do presente.

Nesse mercado, assim como existem os períodos de euforia e de ganho de dinheiro fácil, com muitas empresas e investidores apostando fortemente em iniciativas que, muitas vezes, mais fazem promessas do que entregam de fato, e que nem mesmo demonstram viabilidade, existem também os tempos de desafios e de dinheiro curto, que muitas starups estão enfrentando.

Esse movimento pendular é natural e pode ser muito positivo para o mercado ao mostrar aos criadores e gestores dessas empresas que é importante ter uma ótima ideia, mas que é igualmente fundamental que o planejamento estratégico e a expectativa de investimentos, de custos e de receita sejam efetivamente realistas.

A maioria dos modelos de business plan costuma focar na expectativa de que tudo dará certo, e deixa de considerar percalços, desafios, equívocos, realidade de custos, necessidade de estrutura e impactos externos, tendendo a ser mais otimistas do que realistas. E um dos aprendizados que já se materializam é o aumento da exigência de análises mais profundas das premissas dos negócios.

Muitas empresas tendem a se empolgar mais com o que esperam e desejam em termos de crescimento projetado do que com a realidade do negócio como um todo, com a sua complexidade e com seus desafios, e deixam de considerar as apostas que não darão certo, os custos de organização e gestão, eventuais processos e perdas, ameaças não percebidas etc.

Recentemente, vários fundos de investimentos divulgaram a redução de seu investimento em startups, e muitos até desistiram de algumas empresas, especialmente as que se tratavam apenas de promessas.

Quase simultaneamente, várias empresas anunciaram uma correção de rota e cortes de funcionários, chegando a gerar, até mesmo, uma certa onda de preocupação e de reflexão sobre os novos rumos de alguns setores e segmentos – especialmente aqueles que se acostumaram a investir mais em marketing e visibilidade do que em organização e realidade de investimentos.

Esse aparente choque de realidade, que muitas empresas de fato precisavam ter, tem ao menos duas interpretações que podem ser bastante positivas para as empresas que conseguirem entender o recado. Se, de um lado, esse movimento de redução de apostas em empresas que são promissoras, mas que necessitam de muito investimento até que se tonem de fato um negócio viável, indicando e ensinado que as startups precisam ajustar o pensamento de que o dinheiro fácil não irá esperar por longos períodos, de outro lado ensina também que a inovação que hoje se pretende não é apenas a que se apoia em automação ou em aplicativos, mas a que gere inovação efetiva no modelo de negócio.

Adicionalmente, tudo indica que mais investidores estejam se preocupando com a sustentabilidade plena, a começar pela econômica, para que o se sustente e seja de fato viável (inclusive em toda a pauta E-ESG) e esse recado é importante, pois ajudará a ensinar algumas empresas que é fundamental iniciar suas operações de forma correta e com todos os cuidados necessários – que demandam investimentos e recursos, mas que ajudam a fortalecer e a aumentar a segurança do empreendimento.

Acredita-se que tenha ficado para trás o antigo modelo seguido por algumas empresas, de que organização documental e contábil, acordos societários bem acertados, cuidados com a propriedade intelectual, excelência na gestão de dados, efetividade em compliance e governança corporativa, apoio jurídico especializado, rigor com a qualidade (e não apenas o preço) dos parceiros e fornecedores e a efetiva realidade de custos, por exemplo, fossem menos importantes do que tecnologia, automação, explosão de clientes e crescimento rápido.

Felizmente, a maioria dos empresários e executivos, também no segmento de startups parece ter percebido que esses cuidados são fundamentais e tão importantes quanto os cuidados com o crescimento e os custos, e que não podem ser deixados para depois.

Na mesma linha, temos percebido a revisão das matrizes de risco das empresas que passam a considerar questões que precisam temperar a luta pelo custo baixo, como multiplicidade de fornecedores, geopolítica, crises mundiais, dependência exagerada de parceiros etc.

Em muitos casos, os novos formatos e composições de conselhos, com maior diversidade de visões e experiências, com foco além do financeiro, que observam mais questões e que contem com membros externos e independentes, têm ajudado muito.

As startups têm sido as queridinhas dos mercados e dos investidores, há alguns anos. E essa realidade tende a continuar firme, até mesmo para que sigam novos produtos, serviços e formatos empresariais, mas é preciso saber que há limites, além de requisitos e premissas que seguem valendo, sendo a sustentabilidade plena uma das principais – em termos de legado, de propósito, de viabilidade econômica e de imagem e credibilidade.

A chamada lua de mel pode ter passado, mas se as lições forem bem aprendidas e os devidos ajustes implementados, os casamentos tenderão a ser mais sólidos e duradouros.

. Por: Leonardo Barém Leite, sócio sênior do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Contratos, Projetos e novos negócios, Compliance e Direito Corporativo. E é também arbitro corporativo.

https://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=425536

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