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Política e redes sociais: opiniões podem impactar a carreira?
FONTE: GAZETA DE S. PAULO
Especialistas explicam o que é certo e errado na hora de falar de política nas redes e fora delas
GLADYS MAGALHÃES
Publicado em 09/09/2022
As redes sociais cada vez mais fazem parte do dia a dia das pessoas e, em tempos de eleições, não é incomum que o assunto faça parte do feed de muitos usuários. Mas, será que emitir opiniões políticas nas redes impacta a vida profissional?
Para a especialista em comportamento organizacional e gestão de pessoas Miriam Rodrigues, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a resposta é sim, o que faz com que as pessoas precisem ter cuidado redobrado com o que é postado.
“As redes sociais são uma janela para o mundo, mas, é importante lembrar que somos nós quem decidimos o que compartilhamos e, como para tudo o que fazemos na vida, é importante refletir sobre as consequências. Sabemos que muitas empresas consideram as redes sociais nos processos seletivos e que política sempre foi um assunto polêmico. Assim, se o desejo for que eventuais polêmicas não interfiram em processos seletivos e, consequentemente, na carreira, a dica é deixar as opiniões políticas para outras instâncias da vida”, diz.
Cuidado redobrado com o Linkedin
Quando o assunto é mercado de trabalho, atualmente, é comum que recrutadores e profissionais de recursos humanos observem as redes sociais de candidatos e até de quem já trabalha no local. A ideia é ratificar a aderência do candidato, ou trabalhador, com a cultura organizacional e valores da empresa.
Dessa forma, se é necessário observar o que é publicado em redes sociais mais descontraídas, como Instagram e Tik Tok, a atenção deve ser redobrada no Linkedin.
“As redes sociais são acompanhadas pelas empresas e, hoje, ter essa ou aquela ideologia pode te afastar de algumas oportunidades. No Linkedin o cuidado deve ser maior, pois é uma rede social voltada ao mercado corporativo. Portanto, o ideal é que os assuntos postados lá tenham relação com este universo. Não é o local adequado para emitir opiniões políticas. Ainda assim, se a pessoa quiser comentar algo, o mais adequado é falar sobre políticas sociais e não de políticas partidárias e, tanto no Linkedin, como nas outras redes, nunca se envolver em discussões e debates”, orienta a gestora de carreiras e neurocientista Andrea Deis.
De acordo com as especialistas, o bom senso deve sempre guiar as pessoas antes de apertar o botão publicar. Porém, os cuidados não devem ser limitados ao universo virtual, o mundo real também requer atenção, especialmente de quem ocupa cargos de liderança.
“Nas redes, é fundamental lembrar que o que postamos pode ser visto e também compartilhado, muitas vezes com pessoas que nem conhecemos. A presencialidade é um pouco mais controlada neste sentido, porém, cautela e atenção sempre são recomendadas, sendo que o cuidado deve ser ainda maior, conforme o cargo, quanto mais visibilidade o profissional tiver na estrutura hierárquica, maior poderá ser a repercussão e os eventuais “estragos” decorrentes da exposição de suas opiniões”, ressalta Miriam.
Paula Bernardelli, sócia da Neisser e Bernadelli Advocacia – Foto: Divulgação
O que diz a lei?
A lei brasileira não deixa claro sobre o que é permitido ou não nas redes sociais, quando se fala de política. Dessa forma, o que é aceitável ou não pelas empresas acaba sendo definido de acordo com cada organização.
Contudo, independentemente do mercado de trabalho, o discurso político não pode ser utilizado para disseminar discursos de ódio ou inverdades.
“A liberdade de emitir opiniões políticas nas redes sociais precisa ser garantida, mas como todo direito, não é absoluto, não é possível utilizar uma defesa de uma liberdade de opinião política para disseminar discursos de ódio, por exemplo, a liberdade de opinião política deve ser garantida em todos os espaços, mas garantir essa liberdade significa também estar atento a seus excessos”, comenta a advogada especialista em direito eleitoral Paula Bernardelli, sócia da Neisser e Bernardelli Advocacia.