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Pix amadurece em 5 anos e segue inovando

14 de novembro, 2025

Pix amadurece em 5 anos e segue inovando

Uso em transações entre clientes e empresas já supera pagamentos entre pessoas e há novas funcionalidades a caminho

Por Gabriel Shinohara, Valor — Brasília

Foot: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Yasmin Hassegawa é ilustradora e costuma participar de feiras de arte em Brasília. São momentos propícios para ter contato com o público e vender seus trabalhos. Ela diz que o processo ficou mais fácil após o lançamento do Pix, há cinco anos, e sente que as pessoas passaram a a comprar mais desde então.

“Muitas vezes, a gente não tem dinheiro na carteira e o Pix chegou para ajudar nessas horas. Outro motivo para maior uso do Pix, imagino, seja porque o público queira facilitar a entrada do dinheiro para o pequeno empreendedor, para que não precisemos pagar as taxas do cartão”, diz.

O Pix, que completa cinco anos no dia 16, mudou a maneira de pagar de milhões de brasileiros — e a lógica de muitos negócios. Para Hassegawa, em alguns eventos, a porcentagem de pagamentos dessa forma supera a de cartões. Em outros, é quase meio a meio.

A experiência da ilustradora é também capturada nas estatísticas de uso do Pix. Em outubro, a quantidade de pagamentos de pessoas para empresas (P2B) superou o número de transferências entre pessoas (P2P). Segundo dados do Banco Central (BC), foram 2,72 bilhões de transações P2B, ou 44% do total no mês, e 2,69 bilhões P2P, 43% do total.

Os dados mostram a evolução do Pix como meio de pagamentos. Logo que foi lançado, o sistema deslanchou primeiro nas transferências entre pessoas, substituindo o dinheiro físico e os tradicionais TEDs e DOCs (este já nem existe mais). Aos poucos, foi sendo adotado também para pagamentos entre clientes e empresas. A adoção nos negócios ganhou força à medida que ficaram evidentes benefícios como a liquidação imediata das vendas on-line e a possibilidade de oferecer descontos maiores, dado o custo mais baixo em relação às taxas dos cartões.

Essa mudança, ainda que sutil, reflete um contínuo crescimento do número de pessoas jurídicas cadastradas no Pix e uma agenda de inovação tocada pelo BC que que vem abrindo novos espaços para o meio instantâneo. Só neste ano, a autoridade lançou o Pix por aproximação e o Pix Automático, duas iniciativas de pagamentos para empresas. Ainda trabalha no Pix Parcelado — que funcionará como uma espécie de crediário digital.

 — Foto: Arte/Valor

— Foto: Arte/Valor

Fruto de um projeto de técnicos do BC, o desenvolvimento do Pix foi encampado pelo ex-presidente da autarquia Ilan Goldfajn e acelerado por seu sucessor, Roberto Campos Neto, com participação ativa do setor privado nas discussões. A agenda de projetos segue em curso na gestão atual, de Gabriel Galípolo.

O Pix passou a representar, neste ano, 51% das transações realizadas entre todos os métodos de pagamento, segundo levantamento da Oliver Wyman com dados do BC. Apesar disso, Rogério Panca, senior advisor da consultoria, destacou um contexto: a quantidade de operações se elevou de forma geral, então, mesmo com a queda na participação, o número de operações com cartão de crédito, por exemplo, subiu.

Panca disse que o número de cartões de crédito emitidos também subiu desde o lançamento do Pix, o que demonstra uma coexistência dos meios de pagamento. “O Pix traz a bancarização e permite que os emissores conheçam aquele cliente e eventualmente ofertem primeiro um cartão de débito ou mesmo o cartão de crédito”, disse.

O especialista diz não ter feito uma projeção “na ponta do lápis”, mas avalia que o número de transações de pessoas para empresas deve subir mais nos próximos meses, com as compras de fim de ano.

Panca também diz que o Pix Automático “tem espaço para ocupar”. Lançado em junho, o uso da ferramenta que pode substituir o débito automático e outras modalidades de pagamentos recorrentes vem crescendo. Em agosto, R$ 1,1 milhão foi o volume transacionado dessa forma, registro que subiu para R$ 7,3 milhões em outubro.

O diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do BC, Renato Gomes, afirma que a funcionalidade gerou concorrência em vários mercados. “Com o Pix Automático, a instituição bancária pequenininha ou de pagamentos pequenininha pode concorrer em igualdade de condições com o ‘bancão’, bem como a academia da esquina pode concorrer em igualdade de condições com uma academia maior, porque a mesma comodidade do débito automático vai estar disponível”, disse em transmissão on-line nesta semana.

O Pix por aproximação foi outra mudança neste ano. Desde fevereiro, clientes podem vincular suas contas em banco ou instituições de pagamento a uma carteira digital, como o Google Pay, para fazer pagamentos presenciais da mesma forma como com o cartão: aproximando o celular da maquininha. A modalidade vem ganhando tração nos últimos meses, chegando a 8,7 milhões em outubro.

A agenda ainda conta com o lançamento de regras para padronizar a experiência de oferta do Pix Parcelado, já disponibilizado por várias instituições. A expectativa era que as regras saíssem em outubro, o que não aconteceu. Nesta semana, o presidente do BC disse que o produto já estava sendo ofertado e explicou que se discute qual tipo de experiência deve ter “um pouco mais de atrito” na hora de contratação.

Mareska Tiveron, sócia do Viseu Advogados, diz que a agenda de novidades do Pix é “inovadora e viva” e que a ferramenta apresenta vantagens, principalmente para pequenas empresas — como a redução de custos operacionais e o recebimento instantâneo dos recursos. “Isso faz com que as empresas acabem tendo mais flexibilidade para atrair mais clientes e até dar desconto”, afirma.

https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/11/13/pix-amadurece-em-5-anos-e-segue-inovando.ghtml

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