carregando...

PORTFÓLIO

Personalizado: A chegada de André Rizk e os valores do Miguel Neto

23 de setembro, 2025

Autor: Luís Bulcão

Foram 30 anos de formação e atuação em grandes empresas, boa parte deles no comando dos jurídicos de companhias abertas, como Grupo Pão de Açucar, onde atuou por 12 anos, Totvs, Walmart (Big) e Carrefour. No fim de agosto, após encerrar passagem como vice-presidente jurídico da Lavoro Agro, André Rizk juntou-se ao Miguel Neto Advogados e deu início a uma nova fase, agora do outro lado da mesa.

“Minha carreira foi se consolidando nas corporações, eu fui crescendo, as coisas foram dando certo, e acabei mantendo esse caminho. Mas sempre tive o desejo de ter um escritório, estar próximo de pessoas nas quais confio e com quem acredito poder construir e crescer”, afirma.

Rizk diz que proximidade e confiança foram os principais motivos para a escolha do escritório. Além da relação com J. A. Miguel Neto, Rizk cita ainda proximidade com Marcel Giraldi, que é sócio da área cível do escritório, e Décio Andrade, que fica à frente da gestão do escritório.

Na verdade, é uma história que poderia ter começado há 30 anos e provavelmente teria dado outro rumo à carreira de Rizk.

“Ele só não fez estágio conosco porque nunca decido sobre amigos que indico e meus sócios da época entenderam que não deveria ser”, conta o sócio fundador, Miguel Neto. Para compensar a “demora”, Rizk agora traz para a equipe de 10 sócios experiência de décadas atuando em empresas de capital aberto, além de conhecimento aprofundado e muitos contatos na indústria do varejo.

O currículo em si, no entanto, não bastaria.

“Não acredito em sociedade, ainda mais entre advogados, sem que exista a relação pessoal. Um dos grandes problemas dos grandes escritórios é fazer sócio só por medidas de merecimento sem que as pessoas estejam alinhadas quanto a valores e sobre como tratar cliente”, afirma Neto.

O Miguel Neto mantém um porte médio e não acompanhou o crescimento acelerado de boa parte de seus pares nos últimos anos. Mantém oferta ampla, que inclui societário, tributário e contencioso, mas cultiva vocação especial no atendimento a famílias, incluindo gestão patrimonial e planejamento sucessório, além do societário para grupos privados.

“Tenho várias famílias para as quais trabalhei para o avô e hoje trabalho para o neto. Esses netos estão se casando agora. Fazemos testamento, pacto antenupcial, preparamos documentos. São pessoas que vi nascer, fui na festinha de aniversário, e hoje são clientes. Esse é o DNA do escritório: relação longeva. Os filhos aprenderam com os pais a nos ter como conselheiros, e os netos estão indo pelo mesmo caminho”, afirma o fundador.

Aproveitando essa relação, o escritório tem ampliado a atuação em fusões e aquisições. Ainda este ano, promoveu Juliana Miyuki Honda à sociedade, fortalecendo a equipe na área. A chegada de Rizk também abre os horizontes do escritório, mas não sem manter a essência – o foco permanece sendo o desenvolvimento do cliente no longo termo.

Neto diz que apesar de nas últimas décadas ter ocorrido uma grande mudança no mercado brasileiro em direção à abertura de capital e pulverização de participações familiares em empresas, nem sempre esse é o caminho mais indicado. Hoje muitos estão percebendo isso.

“Eu sempre pergunto: para quê? Abrir capital significa ter pessoas avaliando seu negócio sem estarem no dia a dia dele. Exige governança e implica em custos muito altos. Você tem outras maneiras de se capitalizar ou de crescer”, afirma.

Por outro lado, pondera que exposição no mercado tem benefícios, como liquidez, inclusive para vender ações sem se desfazer do controle. Também há vantagens nítidas para a obtenção de crédito.

“Se for para dar liquidez à família, tirar a personificação do negócio e torná-lo mais institucional, acho que vale a pena. Se for apenas para trazer dinheiro e vender um pedaço das ações, há opções melhores”, avalia.

Além de trazer nova gama de experiências ao escritório, Rizk também contribui com uma experiência diferente e fortalece os quadros para contribuir com a perenidade da sociedade. Aos 62 anos, sem pressa, Neto projeta sucessão.

“Não estou me aposentando, mas preciso planejar. É importante ter alguém com a gama de clientela e valores do André. O escritório só ganha. Ele tem potencial de trazer clientes novos e tem a visão do que um diretor jurídico ou dono de empresa quer ver no escritório”, diz.

Rizk conta que a experiência como diretor jurídico lhe trouxe alguns ensinamentos sobre a relação com escritórios de advocacia que pretende incorporar na nova posição. Entre eles, ressalta que é, de fato, um diferencial quando sócios mais sêniores se envolvem diretamente no dia a dia dos projetos e mantém a proximidade em vez de delegar o relacionamento a equipes mais júniores. De acordo com ele, essa dinâmica foi normalizada no mercado, em detrimento do serviço ideal.

“É uma realidade, tanto nos grandes escritórios quanto em boutiques. Não é incomum o cliente lidar menos do que gostaria com o sócio, que é a mente mais estratégica que desenvolve o trabalho”, afirma.

Rizk também salienta que é importante ter flexibilidade e capacidade de ir além do seu próprio nicho de especialização. Para ele, não basta entender da indústria, é preciso entender o negócio do cliente com profundidade.

“Às vezes você se senta para discutir um tema de uma área específica e durante a conversa traz outra dor. O diferencial é o sócio, pela formação e vivência de negócios, ter uma postura generalista o suficiente para entregar uma solução que, às vezes, não estava no escopo inicial. Precisa estar aberto para isso”, diz.

Se por um lado Rizk traz a visão do departamento jurídico, por outro, também terá que assimilar a dinâmica de escritório, incluindo busca por clientela e gerenciar demandas variadas. Porém, Neto garante que não haverá pressão para que se adapte rapidamente. “É difícil: você joga a rede dez vezes; na décima, aparece um peixinho. Se desanima antes, não chega à décima”, diz.

Neto se mostra contrário a qualquer tipo de agressividade para conquistar mandatos esporádicos. A cultura do escritório, segundo ele, é trabalhada para valorizar as relações de longo prazo. “Já tivemos oportunidades de trazer pessoas com potencial de clientela até maior do que temos, mas sem os nossos valores. Gente que acha válido tirar da equipe tudo o que puder e remunerar menos; gente que acha que precisa tirar do cliente todo o dinheiro possível. Esses valores não são os nossos”, afirma.

Ele conta que os valores são refletidos também na estrutura de compensação dos sócios, herança dos tempos em que trabalhou no Baker McKenzie, antes de fundar o escritório. Há um valor fixo distribuído a todos os sócios, que dividem o lucro de seus departamentos, independente de quem tenha gerado o lucro. O mérito é compensado por meio de ajustes na participação societária, que ocorre a cada três anos.

“Isso é sociedade: arar, plantar e colher juntos. Se no dia da colheita eu tiver mais saúde e exposição e colher mais do que meu amigo, isso não interessa; interessa que, na mesa, esteja a colheita toda. Esse valor, enquanto eu for sócio, eu não prescindo. Aqui não é um condomínio de advogados. É uma sociedade em que as pessoas se dão as mãos, se ajudam e trabalham por um interesse comum, tendo o cliente no centro”, diz.

Isso não quer dizer, afirma Neto, que “gatos gordos” sejam tolerados. “O dia que eu não estiver produzindo e trazendo, não quero que ninguém me sustente, assim como não vou sustentar ninguém. Mas acontece de as pessoas trabalharem, se dedicarem, se esforçarem e o resultado não vir. Isso faz parte”, diz.

https://circlenews.com.br/personalizado-a-chegada-de-andre-rizk-e-os-valores-do-miguel-neto/

Compartilhe