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PORTFÓLIO

O ESG vai desaparecer (e esse movimento de evolução será positivo)

23 de agosto, 2024

Por Leonardo Barém Leite*

O universo corporativo é extremamente desafiador e dinâmico, e espera-se que “caminhe” sempre para a evolução — seja ela mais ou menos rápida, mas cada vez mais global. Nessa linha, trabalhamos para que as organizações evoluam de forma constante e que sejam realmente cada vez melhores, assim como mais rentáveis, valiosas e sustentáveis, para que esses ganhos não sejam efêmeros ou passageiros.

Como se sabe, as melhores organizações e mais fortes são aquelas que mais atraem as melhores pessoas, os melhores parceiros, os melhores investimentos, e a maioria dos clientes, fazendo com que conquistem os melhores negócios consigam marcas mais robustas, além de uma boa imagem e reputação. E são também elas que conseguem maior harmonia entre todos os fatores e recursos produtivos, melhores sinergias e (ainda) enorme redução de conflitos, multas, processos judiciais e perdas em geral, sem contar que alcançam, também, a justa remuneração pelo que fazem.

Entendemos, ainda, que organizações melhores e mais rentáveis são também as que mais se preocupam com as pessoas, o meio ambiente, todo o seu conjunto de “stakeholders”, com a ética e a integridade e com a sociedade em geral, de forma a reforçarem a cultura e aplicarem todas as ferramentas possíveis para construir esse arcabouço de qualidade.

Organizações desse tipo preocupam-se não apenas com o ganho pelo ganho, ou com o lucro pelo lucro, mas também como se chega a tais ganhos, e, ainda, com as suas escolhas e decisões, para que também essas sejam cada vez acertadas – e que, em função dessa cultura contínua, forneçam a seus clientes produtos e serviços de melhor qualidade.

Em outras palavras, as organizações precisam buscar essa evolução de maneira permanente, englobando não apenas novas tecnologias, mas também práticas e métodos (assim como condições) de trabalho e de utilização de recursos, menores impactos negativos em função de suas atividades – que por sua vez demandam melhorias de processos e de sistemas, bem como de governança corporativa, compliance, gestão de riscos e diversas outras ferramentas.

Defendemos, assim, que o caminho para a excelência sempre contemple a melhoria contínua, em todos esses aspectos, para que o foco passe a ser o todo, ou seja, a organização inteira, e não apenas nesse ou naquele aspecto, ou em uma, ou outra área.

É necessário haver uma nova concepção empresarial que não busque apenas desenvolver um produto mais moderno ou avançado tecnologicamente, mas que também contemple embalagens melhores (e, por vezes, menores), matéria-prima e recursos que gerem menos resíduos, que impactem menos as pessoas e o planeta de forma negativa, que custe menos e dure mais, que consuma menos energia, etc. As empresas precisam demonstrar que realmente se preocupam com as pessoas.

Quando atingirmos esse grau de desenvolvimento empresarial, e social, que aqui defendemos que seja a própria evolução do EESG (que alia o fator Econômico aos demais valores relacionados à Meio Ambiente, Social e de Governança), acreditamos que as organizações passem a mudar até mesmo a forma como concebem e oferecem produtos e serviços ao mercado, pois eles terão de passar a ser sustentáveis de forma geral, como premissa básica; e não mais como diferencial.

Precisamos que o mundo corporativo passe a considerar questões como qualidade e sustentabilidade, e ainda criatividade e inovação, como parte efetiva dos modelos de negócios das organizações, para que consigamos demonstrar que as empresas melhores são realmente melhores no dia a dia, na prática, de forma geral, e em todos os seus pilares e atividades.

Essa concepção de empresa tende a incluir sistemas internos de controles mais apurados, que inibam práticas que contrariem a ética e a integridade, que impeçam que se agrida pessoas e meio ambiente, ou ainda que se pratiquem infrações gravíssimas como desvios de conduta, corrupção, greenwashing e socialwashing, fraude ao consumidor, manipulações de mercado, etc.

Assim como as melhores práticas de governança corporativa e de compliance evoluíram, englobando questões fundamentais de sustentabilidade, inserindo preocupações mais amplas, e até difusas, entre os valores e a efetiva cultura organizacional (considerando os “no holders” e chegando ao EESG), defendemos que o próprio ESG irá evoluir de tal maneira que nem mais precisemos falar sobre ele, ou defendê-lo.

Dessa forma, o futuro (e a evolução) do ESG é a própria evolução da governança corporativa. Ou seja, o ESG tende a “morrer”, mas não por deixar de ser importante (muito pelo contrário), mas por passar a ser tão fundamental, que nem mais seja preciso mencionar a sua presença.

A evolução esperada para a mentalidade ESG de se fazer negócios contempla, portanto, a inserção total de seus pilares em tudo o que as empresas fazem, de maneira que seja tão natural e automática a preocupação com as pessoas e com o planeta – a ponto da própria governança corporativa já conter todos os aspectos do tema.

Atualmente, ainda vemos organizações que se orgulham por apresentar práticas sustentáveis, mas que ainda erram ao tentar justificar falhas graves em outros aspectos, alegando, por exemplo, que se preocupam com emissões de carbono, mas não com o uso mais sustentável de energia e de água.

A evolução das cadeias produtivas e de valor, bem como as pressões da sociedade em geral, somadas à chegada de legislações mais modernas e exigentes (como já se vê na Europa, por exemplo), tendem a apressar esse processo de evolução, e de absorção do EESG ao dia a dia corporativo.

Dessa forma, mesmo as áreas, diretorias e até comitês que agora se ocupam dessas questões, passarão a ter novas roupagens e atuações. O foco será no modelo de negócios – o que demandará importantes ajustes jurídicos, novas políticas, novas práticas de gestão e de atuação, e novos sistemas.

Talvez, em pouco tempo, as organizações efetivamente comprometidas com a ética e a integridade, bem como com as melhores práticas de governança corporativa, de compliance, e com a efetiva inovação e criatividade, já não precisarão mais implementar planos de transição, uma vez que todos os seus produtos e serviços, instalações e demais práticas serão naturalmente sustentáveis. É o que se espera de empresas mais evoluídas e de uma sociedade mais evoluída.

Ou seja, o ESG tende a morrer, justamente por ser tão importante e urgente, que passará fazer parte do dia a dia de todos nós. E isso é bom!

*Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório Almeida Advogados em SP e Presidente da Comissão de Direito Societário, Governança Corporativa e ESG da OAB-SP/Pinheiros.

https://monitordomercado.com.br/noticias/131223-opiniao-o-eesg-vai-desaparecer-e-esse-movimento-de-evolucao-sera-positivo/

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