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Menos de 10% dos escritórios reduziram empregos com novas tecnologias

8 de dezembro, 2025

Apesar dos processos de automação com IA em ascensão, os escritórios Mais Admirados do anuário ANÁLISE ADVOCACIA mantiveram postos de trabalho

Kauê Medeiros

(Imagem: Análise Editorial)

Com a ascensão da Inteligência Artificial (IA), veio o medo de diversos profissionais de serem substituídos pela nova tecnologia. Atualmente, profissões que envolvem tarefas repetitivas, processamento de dados e atendimento básico ao cliente vêm se tornando obsoletas. Para efeito de comparação, nos anos 90, os computadores e editores de textos fizeram a mesma coisa com os datilógrafos.

Entretanto, mesmo com esse temor, ao menos dentro dos escritórios de advocacia eleitos Mais Admirados, não houve diminuição nos postos de trabalho. Ao menos é o que indica o levantamento divulgado na edição comemorativa de 20 anos do ANÁLISE ADVOCACIA. Confira o gráfico abaixo com as respostas de 714 bancas admiradas:

Gráfico extraído da página 10 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026 (Imagem: Análise Editorial/Reprodução)

Sem perdas

Os dados divulgados pela edição de 2026 do anuário ANÁLISE ADVOCACIA vão na contramão de outras pesquisas, como a do banco de investimento americano Goldman Sachs. Segundo esse estudo, as soluções de Inteligência Artificial (IA) irão automatizar até 44% das atividades da profissão jurídica.

Contudo, pelo menos para as bancas Mais Admiradas, os impactos da nova tecnologia representaram demissões de apenas 9%. Para Gisele Karassawa, sócia fundadora e CEO do VLK Advogados, isso reflete a mudança na percepção de escritórios e empresas sobre a Inteligência Artificial.

A CEO do escritório especializado, eleito Mais Admirado no anuário ANÁLISE ADVOCACIA 2026, acredita no conceito da “Inteligência Aumentada”. Segundo Gisele, a IA é uma ferramenta para alavancar a inteligência humana, e não substituí-la. A prova disso, na sua visão, é a nova dinâmica de contratações dentro das bancas.

“O próprio mercado já vem olhando para o escritório jurídico como uma grande empresa, que inclusive olha para contratações além do jurídico. As bancas agora não contratam somente advogados, mas também novas posições como cientistas de dados, engenheiros de IA, para fortalecer esse pilar, com o olhar da inteligência aumentada”, destaca Karassawa.

Na visão da sócia, o impacto da Inteligência Artificial nos escritórios tem sido inegável, principalmente por ela trazer eficiência e escalabilidade. Porém, ela acredita que a ferramenta não possui algumas habilidades inerentemente humanas, o que faz com que o advogado ainda seja peça-chave dentro de todo esse processo.

Reaproveitamento de expertise

Segundo outro dado divulgado no ANÁLISE ADVOCACIA 2026, 96% dos escritórios que implementaram a IA internamente disseram ter tido ganhos com eficiência. Um dos exemplos de uso da ferramenta é a identificação de possíveis “falcatruas” em contratos de clientes das bancas, processo que é feito com muito mais precisão e rapidez do que os olhos humanos são capazes de fazer.

Porém, como esse tipo de processo era feito por humanos até pouco tempo atrás, os escritórios, assim como empresas ao automatizar seus processos, ainda estão em fase de implementação da ferramenta. Peter Eduardo Siemsen, sócio, membro do comitê executivo, do Conselho de Administração e líder do grupo de trabalho ESG do Dannemann Siemsen Advogados, afirma que o escritório está nesta fase.

O sócio do escritório eleito Mais Admirado no anuário ANÁLISE ADVOCACIA, afirma que a demissão por conta da IA é um erro. Para Siemsen, essa expertise que o profissional acumula dentro do escritório pode ainda ser valiosa e aproveitada dentro da estrutura para uma nova área, o que contribui para diminuir a taxa de turnover internamente.

Novas Tecnologias, Grandes Mudanças

A implementação de Inteligência Artificial (IA) dentro de processos que antes eram feitos somente por humanos pode causar um choque social. Débora Gibertoni, head de pessoas & cultura do Viseu Advogados, relata que o escritório full service teve diversas mudanças com a chegada de novas tecnologias (incluindo a IA) para um formato mais estratégico e voltado ao negócio.

Como resultado, o escritório alterou diversos processos internos, o que gerou uma mudança de cultura. Para se adequar a essa nova fase, o escritório, em vez de demitir, realizou uma estratégia de atração de novos talentos. Para Débora, a implementação da IA dentro do escritório nunca foi substituir o humano, mas entregar uma ferramenta que auxilie na atuação do advogado.

“O nosso trabalho aqui é fazer com que os profissionais se adequem à nova tecnologia e inovação arraigados na cultura do escritório, mas que utilize a IA de forma consciente e inteligente, trazendo essa força para o trabalho e contribuindo, sem substituir o humano”, destaca Débora.

O advogado deixará de existir?

O mundo teve conhecimento da IA generativa (GenIA) em meados de 2022. Imediatamente, o mercado inteiro passou a se questionar quais seriam os impactos dessa tecnologia no mercado de trabalho, inclusive na advocacia. Contudo, mesmo com essa mudança, somente este ano, a 20ª edição contou com 613 novos nomes nos rankings de Mais Admirados. Ou seja: ainda tem espaço no mercado. Mas como se destacar e conseguir competir em pé de igualdade com as máquinas?

A head de pessoas & cultura do Viseu Advogados, Débora Gibertoni, aponta que mesmo com a adoção da Inteligência Artificial, o escritório ainda busca profissionais que tenham uma visão do “A Mais”. E ela elucida como o advogado pode fazer isso:

Peter Eduardo Siemsen segue a mesma linha de raciocínio. Para ele, conhecer bem a ferramenta de Inteligência Artificial (IA) e entender qual é a melhor forma de utilizá-la é o melhor caminho. “Dessa forma, o advogado não só se mantém, como se valoriza dentro da estrutura, porque pode entregar um trabalho melhor, mais eficiente e com menor custo.”

Novas tecnologias e postos de trabalho: como conciliar?

Com o processo de automação de IA nos escritórios, 46% das bancas Mais Admiradas relataram ter tido um ganho de economia. A pergunta de um milhão de dólares é: como modernizar processos e, ainda assim, reter talentos dentro da organização? A resposta pode ser mais simples do que parece e passa pela comunicação e capacitação.

Na visão de Débora Gibertoni, as empresas têm a responsabilidade de deixar bem claro como utilizar a IA, principalmente na área jurídica. Dessa forma, as expectativas ficam transparentes para ambos os lados, o que permite uma manutenção mais assertiva da retenção de talentos dentro dos escritórios.

“É o futuro, não tem como substituir ou acabar com isso, e a IA vai ser cada vez mais aprimorada. Contudo, vemos muitas vezes, conteúdos que a Inteligência Artificial acaba trazendo, não é exatamente o desejado, porque demanda da inteligência por trás disso”, destaca a head de pessoas & cultura do Viseu Advogados.

Já para Gisele Karassawa, o caminho é promover workshops internos que instruam os advogados a realizar o melhor uso e, também, reforçar a questão da revisão humana. Afinal, mesmo com a IA implementada em 47% dos escritórios, apenas 25% relataram ter tido ganhos em relação à precisão com o uso da ferramenta.

“Trazendo o quesito da interação entre humano e máquina, a gente sabe de diversos casos em que a Inteligência Artificial alucina e traz jurisprudências que não existem. A revisão humana continua sendo um passo essencial para um uso responsável da IA dentro da advocacia”, ressalta a sócia e CEO do VLK Advogados.

Portanto, mesmo com o advento da Inteligência Artificial dentro dos escritórios de advocacia, é possível, sim, reter talentos e evitar uma alta no turnover. A tecnologia não veio para substituir ninguém. Contudo, é preciso que os profissionais se adequem à nova realidade e se mantenham atualizados, pois, caso contrário, se tornarão obsoletos.

https://analise.com/noticias/menos-de-10-dos-escritorios-reduziram-empregos-com-novas-tecnologias

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