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Fim da patente do Ozempic: quando as canetas emagrecedoras vão ficar mais baratas?
Decisão do STJ abre caminho para concorrentes do Ozempic, mas especialistas dizem que a queda de preços das canetas emagrecedoras deve ser gradual
Otávio Preto
Imagem: Divulgação
As canetas emagrecedoras já fazem parte da rotina de muitos brasileiros. O preço, no entanto, segue sendo um obstáculo. Os valores cobrados pelos fabricantes continuam elevados — mas esse cenário pode começar a mudar. No início desta semana, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vetou a prorrogação da patente da semaglutida, princípio ativo do Ozempic, o que abre espaço para a entrada de medicamentos genéricos e aumenta a expectativa por preços mais baixos. Ainda assim, essa redução não deve acontecer tão rapidamente quanto parte do mercado espera.
Na decisão, o STJ manteve o entendimento de que a proteção patentária não pode ultrapassar 20 anos, barrando as tentativas da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk de estender a exclusividade do Ozempic além de março de 2026. O julgamento reforça o posicionamento já adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, ao menos em tese, cria as condições para a entrada de concorrentes no mercado nos próximos meses.
Na prática, porém, o fim da patente representa apenas o primeiro passo.
Segundo Lea Vidigal, sócia do escritório Lea Vidigal Advocacia, a expiração da proteção legal não leva, automaticamente, à queda de preços nem à chegada imediata de novos medicamentos às prateleiras. “A experiência brasileira e internacional indica que os efeitos concorrenciais tendem a ser graduais, especialmente no setor farmacêutico, em razão de barreiras regulatórias, tecnológicas e comerciais relevantes”, afirma.
Por que os genéricos podem demorar
No caso das canetas emagrecedoras, o desafio é maior porque se trata de medicamentos biológicos ou de alta complexidade, como os produtos à base de semaglutida. Diferentemente dos remédios químicos tradicionais, esses medicamentos dependem do desenvolvimento de biossimilares, o que exige investimentos elevados, prazos longos e uma estrutura técnica complexa.
Mesmo após o vencimento da patente, poucos laboratórios conseguem, no curto prazo, cumprir todas as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para lançar rapidamente um concorrente.
O processo envolve testes rigorosos para comprovar segurança, eficácia ou equivalência em relação ao medicamento de referência, o que limita a entrada de novos players e reduz a pressão imediata sobre os preços. Em outras palavras, o acesso às canetas emagrecedoras não deve se popularizar da noite para o dia.
O papel do SUS e da regulação de preços
Outro fator que ajuda a explicar a lentidão na queda dos preços está na própria estrutura do mercado farmacêutico brasileiro. A formação de preços é influenciada por mecanismos institucionais, como a regulação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), além das estratégias de compras públicas e dos contratos de médio e longo prazo firmados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“O impacto concorrencial costuma ser mais perceptível no médio prazo, à medida que novos entrantes obtêm registro sanitário, ganham escala produtiva e passam a disputar efetivamente tanto o mercado público quanto o privado”, explica Vidigal.
Além disso, a decisão do STF que limitou a duração das patentes não alterou contratos já firmados com o poder público. Vale lembrar que o Ministério da Saúde é o maior comprador de medicamentos do país, o que reduz de forma significativa o efeito imediato da abertura do mercado, mesmo após o fim da exclusividade.
Quanto custa uma caneta emagrecedora?
Quem precisa adquirir uma caneta emagrecedora ainda enfrenta preços elevados. O Ozempic (semaglutida), por exemplo, pode ser encontrado por cerca de R$ 900 a R$ 1.300 por embalagem com quatro doses semanais — o equivalente a um mês de tratamento —, a depender da farmácia e do estado.
Outra opção com o mesmo princípio ativo é o Wegovy, voltado especificamente para emagrecimento, cujos preços variam entre R$ 925 e R$ 1.799, conforme a concentração da caneta e eventuais promoções.
Já o Mounjaro (tirzepatida) tem custo mensal estimado entre R$ 1.406,75 e R$ 1.859,65 dentro de programas de desconto oferecidos pelas fabricantes. Fora desses programas, o preço pode chegar a R$ 2.384,34 ou mais, dependendo da dose e da alíquota de ICMS em cada estado.
A alternativa mais barata hoje são os chamados “Ozempics brasileiros”, como Olire e Lirux, à base de liraglutida. O tratamento mensal completo pode custar de R$ 700 a mais de R$ 1.100, variando conforme a dose, o número de canetas e a farmácia.





