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Em busca de socorro financeiro, Correios preveem fechar ano com despesas de R$ 22,9 bilhões

9 de dezembro, 2025

Maior parte do gasto é com pessoal, que deve somar R$ 15,1 bilhões em 2025

Por Bruna Lessa
— Brasília

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em uma grave crise financeira e em busca de um socorro que ajude a fechar as contas no ano, os Correios planejam encerrar 2025 com R$ 22,9 bilhões em despesas correntes, segundo dados de execução orçamentária publicados pela empresa. A maior fatia desse montante está relacionado a gastos com pessoal, previstas em R$ 15,1 bilhões neste ano. A cifra é impulsionada por benefícios previstos no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) e apontada internamente como um dos principais entraves à reestruturação financeira da estatal.

O custo com empregados — que representa cerca de dois terços das despesas operacionais — permanece elevado mesmo após tentativas da empresa de limitar gastos e negociar ajustes com as entidades sindicais.

Os valores incluem uma série de benefícios mais amplos que os previstos na CLT, como 70% de gratificação sobre férias, hora tripla em domingos e feriados e regras de ponto por exceção, que dispensam compensação quando o trabalhador encerra o expediente antes do horário. Procurada, a empresa não se manifestou.

Essas condições foram reforçadas ou ampliadas no acordo firmado no ano passado com os trabalhadores, quando a empresa já enfrentava dificuldades financeiras. Para especialistas, os benefícios em si não configuram irregularidade, mas ampliam a distância entre o custo trabalhista da estatal e o praticado por concorrentes privados do setor logístico, que operam em ambiente de competição intensa no e-commerce.

Dados internos mostram que a despesa com pessoal cresceu em relação a 2024 — quando havia fechado em R$ 14,5 bilhões, o equivalente a 62,8% das despesas correntes. Neste ano, o peso deve chegar a 65,8%. O avanço ocorre em meio à queda de receitas, que somaram R$ 21,5 bilhões no ano passado, recuo real de 6,6% frente a 2023.

Além da folha, o orçamento dos Correios também é pressionado por R$ 10,37 bilhões em transferências intra-governamentais, classificadas como encargos diversos — entre eles, obrigações previdenciárias, pagamentos a outros órgãos federais e despesas decorrentes de passivos trabalhistas.

Apesar do aperto no caixa, a estatal concedeu reajuste de 4,11% no último ciclo de negociação e realizou um novo concurso público.

Para o advogado Elias Menegale, gerente jurídico do escritório Paschoini Advogados, parte do desequilíbrio financeiro vivido pelos Correios tem relação direta com decisões de gestão e com a forma como foram firmados contratos e acordos coletivos ao longo dos últimos anos. Ele afirma que a atual situação “denota um acúmulo de descontrole”, agravado por transferências intragovernamentais volumosas e por acordos trabalhistas firmados em momentos em que a empresa já tinha fragilidades no caixa.

— Os valores astronômicos das transferências intragovernamentais mostram um pouco de descontrole em situações passadas — afirma. Segundo ele, esse conjunto de fatores expõe a estatal a uma perda de competitividade frente às empresas privadas do setor. — A estatal está se demonstrando muito cara para operar versus concorrentes diretos, com uma maior agilidade, com maior controle orçamentário.

Menegale ressalta que não há ilegalidade nos benefícios previsto no ACT, mas alerta para os efeitos sobre a sustentabilidade financeira da companhia.

— Quanto a questão dos benefícios, não é nenhuma ilegalidade. O problema, a gente sempre vai esbarrar na governança. Nós temos que fazer a lição de casa, mesmo se tratando de uma empresa pública. Quando em casa a receita diminui, aumentam-se os cortes, para que os custos sejam enquadrados diante da possibilidade. Então, é necessário sentar com os sindicatos e buscar uma nova negociação visando a sobrevida da própria empresa.

O jurista também avalia que o passiva trabalhista é responsabilidade direta da estatal, e não da União. Ele acrescenta que eventuais limitações orçamentárias não autorizam a estatal a descumprir regras de saúde e segurança no trabalho.

A estatal segue em tratativas com bancos para viabilizar um socorro financeiro de R$ 20 bilhões, considerado crucial para sustentar a operação e financiar a modernização da estrutura logística nos próximos anos. O governo avalia que, caso a empresa não consiga condições favoráveis para conseguir os recursos por meio de um empréstimo bancário, será necessário algum aporte do Tesouro para que funcionários recebam seus salários no fim do ano.

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/12/09/em-busca-de-socorro-financeiro-correios-preve-fechar-ano-com-despesas-de-r-229-bilhoes.ghtml

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