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É falso que Exército tenha se posicionado sobre condenação de Bolsonaro
Não há registro de manifestação do comando militar a respeito de julgamento do ex-presidente
Por Maria Eduarda Nascimento
(Foto: Reprodução/Instagram)
O que estão compartilhando: que o Exército teria se posicionado em apoio a Jair Bolsonaro. A reação ajudaria o ex-presidente a reverter a condenação determinada pelo Supremo Tribunal Federal. O vídeo afirma ainda que o Ministério Público Federal (MPF) teria inocentado o ex-presidente em um processo, o que enfraqueceria a decisão da Corte.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há registro de que o Exército tenha se posicionado sobre a condenação de Bolsonaro. O Verifica não encontrou nenhuma manifestação da instituição a respeito, e uma busca no Google por notícias sobre o tema não retorna resultados.
O vídeo distorce informações sobre o arquivamento de uma investigação pelo MPF sobre supostas irregularidades em negociações do acordo Brasil–Paraguai em Itaipu (aqui). Os fatos apurados ocorreram em 2019, no início do governo Bolsonaro, e envolviam possíveis negociações paralelas por lobistas e oferta de vantagens indevidas a autoridades paraguaias. O encerramento do caso não interfere na ação penal que trata da tentativa de golpe de Estado.
Saiba mais: A Primeira Turma do STF condenou Bolsonaro por cinco crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado. Ao todo, são mais de 27 anos de pena. O Verifica entrou em contato com o Exército para perguntar se houve um posicionamento sobre o julgamento, mas não teve resposta.
Compartilhado no Instagram, o vídeo foi publicado originalmente por um perfil no TikTok que se apresenta como uma página de notícias. As postagens, no entanto, consistem em vídeos com chamadas sensacionalistas sobre acidentes, escândalos e mortes. Há anúncios falsos sobre o falecimento de pessoas como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e artistas.
A gravação, narrada por uma voz feminina, afirma que seria urgente a notícia de que o Exército teria se posicionado sobre a condenação de Bolsonaro. A narração não informa a fonte da informação, nem detalha qual teria sido o posicionamento da instituição, característica comum de conteúdos inverídicos que circulam nas redes sociais.
O vídeo analisado é uma montagem composta por imagens das figuras mencionadas na narração. Aparecem fotos de Bolsonaro, do ministro do STF Alexandre de Moraes e de Lula.
Além da invenção sobre um posicionamento do Exército, o conteúdo afirma que o MPF teria inocentado o ex-presidente em um processo e que isso enfraqueceria a condenação de Bolsonaro, o que é falso.
O Verifica identificou que a notícia mais recente envolvendo Bolsonaro e o MPF diz respeito ao arquivamento de uma investigação sobre supostas irregularidades nas negociações do acordo bilateral entre Brasil e Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica de Itaipu.
Segundo o MPF, os fatos apurados ocorreram em 2019 e envolviam “possíveis negociações paralelas por lobistas e oferta de vantagens indevidas a autoridades paraguaias para obtenção de benefícios comerciais”.
O relatório final do inquérito policial constatou ausência de provas. Conforme o MPF, não foi comprovada a oferta ou promessa de vantagem indevida a autoridade estrangeira, nem identificados elementos probatórios mínimos para a configuração de atos lesivos à administração pública. O documento (aqui) aponta ainda que os supostos lobistas eram particulares, sem envolvimento de agentes públicos.
À reportagem, a advogada Izabelle Paes Omena de Oliveira Lima, sócia do escritório Callado, Petrin, Paes & Cezar Advogados, explicou que o arquivamento da investigação pelo MPF não significa uma declaração de inocência sobre as partes investigadas.
“O fato de a investigação sobre suposto pagamento de propina nas negociações do acordo Brasil–Paraguai, em Itaipu, ter sido arquivada não gera reflexo na condenação havida na AP 2668, são situações distintas”, disse Izabelle.
A ação penal 2668 é referente ao núcleo 1, também chamado de “núcleo crucial” da tentativa de abolição do Estado democrático de direito para manter Bolsonaro no poder. Fazem parte desse grupo o ex-presidente e outros sete integrantes que foram condenados pelo STF no dia 11 de setembro.
https://www.estadao.com.br/estadao-verifica/exercito-se-posicionou-condenacao-bolsonaro-falso/