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Dividendos que não acabam mais: até quando vai esse movimento?
Broadcast Exclusivo
Por Guilherme Naldis, especial para a Broadcast
Imagem: Freepik
A cada trimestre, a temporada de balanços das empresas é seguida pela espera dos investidores – quase sempre com sucesso – pelos anúncios de distribuição de dividendos. No último ciclo não foi diferente, mas a leva de informações que continua até aqui nesse sentido tem feito brilhar os olhos de quem aporta recursos nas gigantes do país em busca de parte dos seus lucros.
Entre alguns dos exemplos apenas dos últimos dias estão a Ambev (ABEV3), Direcional (DIRR3), Embraer (EMBJ3), Minerva (BEEF3), Copasa (CSMG3), Neoenergia (NEOE3) e Suzano (SUZB3), que, junto aos anúncios já feitos para distribuição de dividendos, juros sobre capital próprio (JCP) e pagamentos extraordinários referentes a exercícios anteriores, vão despejar bilhões de reais no mercado.
Mas, por que agora? E por que todos ao mesmo tempo? Veja a seguir:
A partir de 2026, os dividendos maiores que R$ 50 mil por mês passarão a ser tributados em 10%. A mudança é uma das consequências da reforma do Imposto de Renda (IR), aprovada no final de novembro pelo Congresso.
Já os valores anunciados neste ano, mas pagos no ano que vem, seguirão isentos. A nova cobrança é um dos esforços do governo para aumentar a arrecadação para atender às metas orçamentárias do arcabouço fiscal.
“Por essa razão, as empresas estão antecipando o anúncio e pagamento de dividendos, com bancos oferecendo linhas de crédito para auxiliar nesse movimento”, explica Antônio Sanches, analista de research da Rico.
Reestruturação de capital
Mauricio Braga Chapinoti, sócio de Gasparini Barbosa e Freire Advogados, explica que as empresas terão que reestruturar seu capital para reduzir o impacto nos acionistas e atrair investimentos. Para isso, devem recorrer a instrumentos de dívida, diz.
Chapinoti acrescenta que as companhias que têm lucros acumulados, mas estão sem caixa, já estão buscando os bancos para fazerem empréstimos ou têm recebido ofertas das instituições para poderem fazer os pagamentos dos dividendos e JCPs. “Os bancos serão parceiros importantes nesse novo cenário de tributação da renda”, afirma.
Nos grandes bancos, o processo tem sido conduzido de maneira a evitar a exposição aquelas companhias que já possuem algum risco maior de crédito. As linhas de crédito usadas nesse tipo de operação são “hiper personalizadas”, com condições específicas para cada caso, segundo apuração da Broadcast.
Menos atratividade?
Entre as consequências do novo porcentual de imposto, está a possibilidade de redução da atratividade de ações brasileiras frente a mercados com regimes mais favoráveis a dividendos, pressionando valuations – especialmente de empresas que tradicionalmente pagam dividendos gordos.
Além disso, a norma estabelece a retenção de 10% sobre dividendos para não residentes do Brasil, e pode afetar a percepção de risco/retorno de capitais estrangeiros no País.
(Colaboraram Mariana Ribas, André Marinho e Altamiro Silva Junior)





