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Com falta de mão de obra, setor dos supermercados muda estratégias de contratação

28 de julho, 2025

Com falta de mão de obra, setor dos supermercados muda estratégias de contratação 

Supermercados investem em recrutamento de reservistas, inclusão social e plataformas digitais 

Por Gustavo Silva

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Apesar de contar com aproximadamente 350 mil postos de trabalho disponíveis, o setor de supermercados no Brasil enfrenta obstáculos para preencher essas vagas. Tradicionalmente visto como uma das principais portas de entrada para jovens no mercado de trabalho formal, o segmento vem perdendo apelo frente a opções mais flexíveis e informais de ocupação. A escassez de mão de obra é agravada tanto pela mudança no perfil dos profissionais quanto pela redução nos índices de desemprego.

Buscando alternativas para reverter esse cenário, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estabeleceu uma cooperação com o Exército Brasileiro. A iniciativa visa atrair jovens recém-egressos do serviço militar obrigatório, oferecendo oportunidades de emprego alinhadas com seus perfis e com perspectivas de crescimento na carreira.

Para Márcio Milan, vice-presidente da Abras, o índice comprova o potencial da iniciativa. Milan também destaca uma mudança na forma como os supermercados tentam atrair candidatos, que hoje tem sua maior vacância para cargos de repositor, cozinheiro, padeiro, auxiliar de cozinha e operador de caixa.

– Verificamos que os reservistas que fazem o curso e depois se aproximam do comércio como um todo conseguem emprego. Cerca de 80% dos concluintes do serviço militar encontram trabalho. Estamos utilizando outras ferramentas de comunicação. Hoje, a empresa precisa ir atrás do trabalhador.

A escassez de mão de obra, segundo Milan, tem se agravado, inclusive em áreas especializadas como padaria e açougue. Além disso, segundo ele, houve uma diminuição de programas de qualificação no mercado.

– Ao longo da história, os supermercados sempre supriram sua necessidade de pessoal através do primeiro emprego. À medida que o perfil do trabalhador vem mudando, muitos procurando flexibilidade, isso vem se acentuando.

Sofremos também com a falta de especialização. Precisamos multiplicar os processos de recrutamento, disponibilizar vagas, fazer feirões de empregabilidade – , defende.

Essa nova abordagem inclui divulgar com mais clareza os benefícios oferecidos: como alimentação no local, assistência odontológica, kit maternidade, seguro de vida, suporte jurídico e psicológico — às vezes estendido a familiares —, além de práticas como o – birthday off– , dia de folga no aniversário.

Mão de obra do Cadastro Único

Outra frente para reduzir o número de vagas não preenchidas é a parceria entre a Abras e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, por meio do programa Acredita no Primeiro Passo. O objetivo é capacitar pessoas do Cadastro Único para o mercado formal ou para o empreendedorismo.

– Nós abrimos parceria com grandes empresas, a exemplo do Carrefour. As vagas que eles têm, eles destinaram um percentual para contratar pessoas do Cadastro Único. Desde 2023, 94 mil pessoas do cadastro foram contratadas – afirma Luiz Carlos Everton, secretário de Inclusão Socioeconômica do MDS.

Segundo Everton, o programa já tem efeito multiplicador. Ele destaca ainda que 98% das pessoas contratadas no saldo do Caged de 2024 são oriundas do Cadastro Único.

– À medida que fazemos parcerias com grandes empresas, estados e municípios começam a reproduzir isso em suas regiões, com pequenas empresas. Tem muita gente qualificada. São 2,6 milhões de pessoas com nível superior que só querem uma oportunidade.

Mudança de perfil de candidatos pode explicar fenômeno

A estratégia de buscar reservistas do Exército para preencher vagas no setor supermercadista é bem recebida por especialistas, mas está longe de ser uma solução simples ou isolada. Para Evelyn Rodrigues, head de Gente e Gestão do escritório Paschoini Advogados, a parceria firmada entre a Abras e o Exército representa uma resposta inteligente a uma conjuntura complexa do mercado de trabalho. Segundo Evelyn, a dificuldade de contratação não se explica apenas por fatores econômicos, mas por mudanças profundas no perfil dos candidatos e nas condições do mercado.

– A nova geração de profissionais busca não apenas remuneração, mas também um ambiente saudável, perspectiva de crescimento, flexibilidade e propósito. Por outro lado, ainda enfrentamos importantes lacunas de qualificação técnica e comportamental em parte significativa da população economicamente ativa.

Ela defende que a iniciativa tem potencial para funcionar, desde que venha acompanhada de planejamento, integração e capacitação.

– A cultura organizacional de um supermercado é distinta da hierarquia militar. Sem uma preparação adequada, pode haver choques de expectativa, dificuldades de adaptação e até aumento da rotatividade. O sucesso depende de onboarding estruturado, avaliação de desempenho, job rotation, planos de carreira e escuta ativa.

Para o economista e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Cícero Pimenteira, um dos entraves está na percepção que parte dos jovens tem sobre o trabalho no setor.

– Hoje os jovens não se enxergam mais como um exército de trabalho. Eles querem flexibilidade, não querem rotina. Muitos preferem atividades como entregas, que permitem definir horários. E os que entram no mercado de supermercados o fazem, muitas vezes, por necessidade imediata, como ser arrimo de família.

O professor observa ainda que há dois perfis distintos em jogo: o de trabalhadores com experiência e vínculo prévio com o mercado formal e o de jovens que resistem à ideia de empregos fixos e rotineiros. Apesar dos obstáculos, Pimenteira vê espaço para evolução.

– Os supermercados podem desenvolver formas de atratividade para diferentes perfis, inclusive os jovens que assumem responsabilidades cedo e têm mais comprometimento. Mas isso exige adaptação, investimento em capacitação e revisão de práticas de gestão de pessoas.

Soluções tecnológicas

Além das parcerias institucionais com o Exército e com programas sociais do governo, o setor supermercadista também tem recorrido a soluções tecnológicas para lidar com a dificuldade de preencher vagas. Criada em 2020, a Helppi é uma das plataformas que vêm ganhando espaço ao oferecer uma alternativa mais rápida e flexível para a contratação de trabalhadores no setor e na indústria de bens de consumo.

– A contratação de mão de obra qualificada é hoje uma das maiores dores do varejo, um setor onde o turnover, absenteísmo e variações de sazonalidade são muito altos. Além disso, o rito tradicional de contratação é lento e custoso – , afirma Daniel Anderson, CEO e cofundador da Helppi.

Presente em doze estados e no Distrito Federal, a plataforma funciona conectando empresas e trabalhadores autônomos. As empresas definem o perfil do colaborador desejado e as condições da vaga, e a Helppi cruza essas informações com os dados dos profissionais cadastrados. A seleção considera critérios como proximidade geográfica, avaliação dos contratantes anteriores e treinamentos realizados. Os profissionais recebem capacitação online e podem aceitar as oportunidades conforme sua disponibilidade.

Foco na inserção de jovens

Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército explicou que a colaboração tem como foco ampliar a inserção de jovens egressos do serviço militar no mercado de trabalho. A operacionalização ocorrerá por meio de uma plataforma digital, em desenvolvimento, que reunirá oportunidades em empresas do setor atacadista e supermercadista, com detalhamento por estado, cidade e qualificação exigida.

O Ministério da Defesa também confirmou que, por intermédio do Projeto Soldado Cidadão, tem promovido capacitações com foco na empregabilidade de militares licenciados, considerando as demandas dos mercados locais e regionais.

CONFIRA VAGAS

GUANABARA

A rede de Supermercados Guanabara oferece diversas oportunidades de emprego em suas lojas nas zonas Norte e Oeste do Rio, na Baixada Fluminense e em Niterói. As vagas disponíveis são para funções operacionais e administrativas. Em geral, a escolaridade mínima exigida é o ensino fundamental completo, mas algumas funções pedem que o candidato tenha nível médio. Há, inclusive, vagas específicas para pessoas com deficiência (PcDs). Muitos postos não exigem experiência profissional. Para se candidatar, os interessados podem entregar um currículo impresso atualizado numa das 28 unidades da rede ou se inscrever pelo site supermercadosguanabara.gupy.io.

MUNDIAL

Já o Mundial oferece 67 vagas para atuação em unidades do Rio e de Niterói. As oportunidades são para os cargos de fiscal de prevenção (10 vagas), auxiliar de serviços gerais (5), operador de perecíveis (30), empacotador (20) e mecânico de refrigeração (2). Os currículos devem ser enviados com o nome da vaga no assunto para: curriculorh@supermercadosmundial.com.br. Há ainda a opção de contato por WhatsApp — apenas para mensagens — pelo número (21) 99241-2708. A remuneração parte de R$ 1.700,00, e os colaboradores contam com benefícios como plano de saúde e odontológico, vale-transporte, alimentação no local, seguro de vida, plano funeral e premiação por assiduidade.

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

O Grupo Pão de Açúcar – GPA está com 48 vagas para profissionais disponíveis no estado do Rio de Janeiro. As oportunidades são para atuar em lojas das redes Pão de Açúcar e Extra Mercado, localizadas na capital e em cidades como Petrópolis, Teresópolis e Niterói.

Entre as posições estão Auxiliar de Cozinha, Açougueiro, Empacotador e Auxiliar de Padaria. Os interessados devem se inscrever pelo link: https://gpa.gupy.io/ ou enviar o currículo pelo e-mail VAGAS.GPA2@gpabr.com. As inscrições podem ser feitas ao longo de todo o ano.

PREZUNIC

O Prezunic, por sua vez, tem cerca de 200 vagas abertas para os cargos de operador de supermercado, operador de perecíveis, operador de loja, padeiro, açougueiro. Os interessados podem se inscrever via internet pela plataforma Gupy (portal.gupy.io) ou entregar curriculo em qualquer uma das lojas Prezunic.

https://extra.globo.com/economia/noticia/2025/07/com-falta-de-mao-de-obra-setor-dos-supermercados-muda-estrategias-de-contratacao.ghtml

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