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BTG compra operações do suíço Julius Baer no Brasil por R$ 615 milhões
Grupo especializado em administração de fortunas tem carteira de R$ 61 bilhões em ativos no país, segmento no qual seu novo dono atua com R$ 40 bilhões sob gestão
Por Ana Flávia Pilar
— São Paulo
O grupo suíço Julius Baer anunciou que venderá sua operação doméstica no Brasil para o BTG Pactual, o maior banco de investimento independente da América Latina, por R$ 615 milhões. Em dezembro, o colunista do GLOBO Lauro Jardim publicou que outras empresas, como Santander, Safra e XP, também estavam no páreo.
A transação deve ser concluída no primeiro trimestre de 2025, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira pela gestora suíça de patrimônio. Especializada em grandes fortunas e na administração de recursos familiares, a empresa possui uma carteira de ativos de R$ 61 bilhões.
A Julius Baer abriu um escritório no Brasil em 2005 e posteriormente comprou dois dos maiores escritórios de gestão de fortunas do país, GPS e Reliance, fundindo as empresas em fevereiro de 2020 e criando uma entidade que atualmente conta com cerca de 300 funcionários.
A gestora afirmou que continuará atendendo clientes brasileiros a partir de outras localidades e que sua unidade Brazil International não será afetada.
Em comentário, a Ativa Investimentos disse que o BTG sempre foi considerado o favorito na disputa pela aquisição das operações da Julius Baer, devido à sua experiência no atendimento a clientes VIP.
O BTG possui uma operação de multifamily office, prestando serviços de consultoria e gestão de patrimônio para várias famílias de alta renda. Atualmente, administra mais de R$ 40 bilhões em ativos, valor que deve superar R$ 100 bilhões após a conclusão da transação, segundo comunicado do banco ao mercado.
A compra também permite integrar outros negócios, o que deve gerar sinergias e ampliar oportunidades de cross-selling (quando a empresa vende produtos e serviços complementares àqueles que o cliente já usa).
Enquanto o Julius Baer foca exclusivamente em grandes fortunas, seguindo o modelo da matriz, o BTG atua em outras frentes, que incluem concessão de crédito, tesouraria, investimentos, mercado imobiliário e securitização de recebíveis.
O banco também lida com gestão de investimentos por meio de fundos e compete com a XP na distribuição de produtos financeiros, como LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), debêntures (títulos de dívida emitidos por empresas) e outros.
— O BTG concorre com a XP nessa luta para capturar clientes de produtos financeiros e tem outro braço de atacado para atuar junto a investidores de mais alta renda. A Julius Baer aparece como atrativo porque já estava consolidada e atuando no Brasil — diz Luis Miguel Santacreu, responsável pela análise de gestores de recursos e instituições financeiras da Austin Ratings.
A Julius Baer tinha planos de se tornar um player importante no segmento de alta no Brasil, afirma Santacreu. Embora o motivo da venda não esteja claro, é possível que os resultados não tenham atendido aos padrões globais do grupo. Outro ponto, segundo o especialista, é que a Julius Baer operava em um único segmento, que tem outros players relevantes no mercado.
— O BTG tem condições de oferecer mais produtos e ampliar o relacionamento com esses clientes, porque pode gerar mais ganhos, o chamado cross-selling. O BTG consegue rentabilizar mais porque tem uma prateleira de produtos e serviços para oferecer. Essa pode ser uma leitura. Tem uma demanda cativa dentro do próprio grupo.
Ele menciona outros investimentos do BTG com foco em clientes de alta renda, como o novo terminal no aeroporto de Guarulhos, que somou investimentos de R$ 80 milhões. O local pretende entregar uma experiência VIP aos passageiros, com promessa de embarque rápido, check in exclusivo, além de drinks e menu estrelado.
Pedro Dietrich, analista da Ativa Investimentos, diz que empresas estrangeiras costumam ter bastante entrada no segmento de family offices porque esses clientes são bastante dolarizados e preferem investir no exterior.
Mas ele conta que a Julius Baer parece ter atingido um teto no montante de ativos administrados. A empresa não conseguiu ganhar mais espaço no mercado nacional, que ganhou novos players nos últimos anos.
— A operação parecia deficitária.
Samantha Teresa Berard Jorge, advogada especialista em direito de família e sucessões, planejamento patrimonial e sucessório, e integrante do Family Office do Briganti Advogados, diz que a operação faz sentido na estratégia de expansão do BTG, que pretende ampliar o atendimento de grandes fortunas por meio cross selling para clientes com aumento patrimonial.
— É uma fonte de crescimento do BTG em apoiar essas famílias que estão apenas aumentando seu patrimônio.
Outras aquisições recentes do Grupo BTG
Fairmont Copacabana e outros 17 hoteis
A BTG PActual Asset Manegement comprou em outubro o Fairmont Copacabana e 17 outros hoteis do braço imobiliário da rede francesa Accor no Brasil por R$ 1,7 bilhão. Os hoteis contam com 2,6 mil quartos e seguirão sendo operados pela Accor. A aquisição vai garantir a conclusão das obras do Sofitel de Ipanema.
Banco Nacional
Em junho do ano passado, o BTG anunciou um acordo para a compra do Banco Nacional, que está em liquidação extrajudicial desde 1995. Todos os ativos e passivos do Nacional entraram no negócio, do mesmo modo que aconteceu quando o BTG comprou o Bamerindus em 2014 e o Banco Econômico em 2022.
Ilha Pura
Em junho, o BTG Pactual comprou o Ilha Pura, bairro planejado construído pela Carvalho Hosken na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O banco absorveu as unidades remanescentes nos sete condomínios de 31 torres de apartamentos do empreendimento.
M. Y. Safra
Também em junho, o BTG fechou acordo para comprar o banco M.Y. Safra, com sede nos Estados Unidos. A instituição tinha uma carteira de empréstimos no valor de US$ 275 milhões em março do ano passado, com US$ 404 milhões em ativos totais e US$ 46 milhões de liquidez.