carregando...

PORTFÓLIO

As crises colocam sustentabilidade e ESG em cheque e reforçam necessidade de evolução e equilíbrio pleno

8 de agosto, 2022

Leonardo Barém Leite

Os conceitos de progresso, desenvolvimento e evolução estão passando por uma grande reflexão global, nas empresas e na sociedade em geral, visto que as definições antigas e tradicionais já se mostram inviáveis e antiquadas, carecendo de modernização. Vivemos tempos de aprendizado.

Nesse processo, um fator antes desconsiderado no contexto ESG pode atuar como reforço, ao invés de ser um mero problema, a despeito de sua complexidade e impacto – a crise.

Todos sabem que as crises não são apenas uma realidade com a qual precisamos lidar, como também nos ensinam e apontam oportunidades, forçando a criatividade e a adaptação.

A dependência de grande parte do planeta das mesmas fontes de suprimentos (como petróleo, gás, grãos, insumos, equipamentos, fontes de energia etc.), e a constatação de que a mesma estava exagerada e perigosa, estão servindo, também, para ensinar a todos que a máxima de que se deve buscar diversificação, para não depender apenas de um ou de poucos fornecedores (tanto em termos de produtos quanto de localização) está mais viva do que nunca. E essa realidade tende a gerar o aprendizado de revisão de matriz de risco por empresas e países.

Conselhos de Administração e Diretorias estão sendo reformulados, passando por revisões profundas, para que consigam (através de maior diversidade em todos os aspectos), lidar com mais questões, indo além do financeiro, mas sem ignorar o econômico.

Estamos aprendendo, também, que nem sempre o que parece ser mais barato é o mais seguro ou o melhor, especialmente se gerar dependência.

Vivemos, portanto, uma revisão de conceitos maior do que já se tinha percebido, demonstrando que o ajuste global será mais amplo e profundo do que alguns estimavam.

Destacamos neste artigo, alguns importantes aspectos desse tema, a serem melhor considerados por líderes, setores, governos, empresas – e todos nós.

Inegavelmente, muito do que hoje vemos, temos e usamos, é importante para a vida contemporânea, mas é também evidente que algumas realidades pioraram com o chamado progresso. Elementos que já tiveram o seu lugar e a sua importância, atualmente já se tem o conhecimento de que foram um erro, como diversos materiais, combustíveis, medicamentos, alimentos e outros, que já foram banidos, ou estão em rápido processo de substituição.

Da destruição de bairros e cidades, ao desmatamento e as queimadas, passando pela morte de lagos, rios e mares, ou mesmo abusos na mineração e na emissão de gases poluentes, ou ainda a produção de lixo eletrônico, dentre vários outros exemplos que além de todos os aspectos humanos e sociais, muito precisa ser corrigido.

Um dos grandes aceleradores dessa nova mentalidade (que reconhece a urgência da sustentabilidade) é a pressão de fundos e de grupos de investidores, que já perceberam que movimentos equivocados, através de iniciativas e financiamento de projetos ou empreendimentos que não sejam sustentáveis, tendem a não ter mais lugar nos próximos anos. Além de que, se tais investidores continuassem desconsiderando esse fator, perderiam muito dinheiro.

O impulso de grandes agentes econômicos foi e é muito importante, pois ajuda a conscientizar gestores de empresas de que não se tratava de algo como idealismo ou modismo, e nem mesmo de bandeira de alguns poucos ativistas, pois em função disso a sustentabilidade (felizmente) já integra o pacote de resultados de empresas e de executivos. Trata-se do maior tema corporativo da atualidade.

Essa corrida ao investimento sustentável é importante, e já tem evoluído, visto que já se vê alguns fundos recalculando suas rotas, pois, em alguns casos, a busca da sustentabilidade não estava levando em consideração a sobrevivência econômica da empresa – que precisa integrar a mentalidade que estamos construindo com vistas ao famoso: mundo melhor.

Empresas que ainda não entenderam que a sustentabilidade que se pretende é a plena, e que precisa ser construída, estão perdendo investimentos.

Toda novidade (embora saibamos que o clamor pela nova ordem empresarial já não é algo tão novo assim) passa por um período de adaptação e de maturação, de maneira que é natural que vejamos iniciativas em várias direções até que cada empresa encontre o seu caminho. Sempre se lembrando de que a sobrevivência econômico-financeira da organização precisa ser preservada.

Em alguns casos, por conta da necessidade de ajustes profundos na gestão e nos planos de cada empresa, os investimentos para as devidas correções podem ser altos, mas, é preciso que sejam escalonados e organizados, para que não prejudiquem a empresa.

Alguns fundos de investimento têm divulgado revisões e ajustes em suas políticas de investimento, por terem percebido que a ausência do equilíbrio pode prejudicar as empresas, sem de fato melhorá-las.

A sustentabilidade e a construção do equilíbrio precisam integrar os processos de tomada de decisão de todos, e compor o equilíbrio, contendo abusos e corrigindo práticas erradas e exageradas, para que assim paremos de destruir o Planeta e passemos a efetivamente cuidar das pessoas.

Todos sabem, que o custo pago pelo meio ambiente e por muitas pessoas, sob o antigo conceito do que não havia limites para gerar riqueza, foi alto demais, e que é necessário reparar injustiças, mudar processos, inovar práticas e modelos de negócios e reorganizar o papel das empresas na sociedade. Mas, nem sempre se leva em conta a importância fundamental do equilíbrio, para que as emendas não fiquem piores do que os sonetos.

Os (ainda tímidos, mas extremamente importantes) avanços já demonstrados por parte do empresariado mundial, com a implantação de programas de sustentabilidade (ESG), e a revisão de seus modelos de negócios, são fundamentais, mas, já se percebe que nem todos estão conseguindo compreender a necessidade do equilíbrio – inclusive econômico.

Se de um lado vemos que nem todos já começaram a construir uma nova mentalidade empresarial e uma nova cultura, que realmente considerem a sustentabilidade como valor fundamental e integrante do seu propósito, de outro já se vê exemplos de empresas que desconsideraram que o programa precisa ser implementado caso a caso, sem que se busque fórmulas mágicas, gerais ou padrões.

Todas as organizações podem e devem melhorar (sempre), e precisam corrigir práticas antigas ou erradas, mas é necessário que não descuidem da sua realidade, sob pena de caírem na armadilha do chamado cobertor curto.

Os pilares do ESG, conhecidos como ambientais, sociais e a governança corporativa, precisam considerar o equilíbrio, também como o primeiro E na sigla, que preferimos e que é conhecida como E-ESG (destacando no início da expressão o fator econômico).

Mesmo nos segmentos que precisarão se reinventar quase que (ou totalmente) por completo, por já estarem absolutamente ultrapassados e inadequados, é necessário que os planos de transição sejam construídos com cuidado, coerência e embasamento na realidade – sob pena de não chegarem a lugar nenhum.

O mais importante é começar a incluir a sustentabilidade na cultura da empresa e considerar esse aspecto em todas as tomadas de decisão, pois tentar inovar demais, e reinventar a roda de forma muito rápida ou baseada em equivocados planos padrões, gerais, de prateleira e massificados, em desacordo com a realidade específica da organização, pode custar muito caro.

Nesse contexto, temos que aprender a considerar também as crises, de todos os tipos, e que têm sido cada vez maiores, mais amplas e mais fortes, afetando a todos.

A década atual ainda está no início, e já vivenciou diversas crises globais como financeiras, sanitárias, climáticas, políticas e humanitárias, sem contar as guerras, que, em seu conjunto, têm trazido enorme impacto para os países, as populações e as empresas.

Dentre outros exemplos, as crises de logística, com escassez de produtos e insumos e alguns dos principais conflitos (locais ou globais), tem levado grande parte do mundo a episódios graves de desabastecimento, bem como pressionado preços às alturas, assim como a inflação, que em muitos casos levam também ao aumento dos juros e a desorganização do câmbio.

O conjunto de crises, demonstra que nem todos os ajustes que empresas e países precisam efetuar são simples ou rápidos, o que já tem levado alguns governantes e empresários a considerarem a luta pela construção da sustentabilidade como inviável.

Entendemos que essas pessoas estejam erradas, pois, a sustentabilidade é viável, necessária e urgente, mas de fato, as crises e os seus efeitos têm funcionado também como reforço (um lembrete) de que é preciso ser realista e cuidadoso, para que se construa a sustentabilidade plena e com consistência.

Crises fazem parte da vida de todos e sempre existirão, de forma que é preciso aprendermos a lidar com elas, sem desistir ao primeiro obstáculo, e sem ceder à tentação de cair na armadilha de desqualificar o ESG em função de sua complexidade.

Aprendamos que a sustentabilidade plena, precisa ser efetivamente plena.

*Leonardo Barém Leite é sócio sênior do escritório Almeida Advogados, especialista em Direito Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Contratos, Projetos e novos negócios, “Compliance” e Direito Corporativo. E é também arbitro corporativo.

https://www.gazetadigital.com.br/colunas-e-opiniao/colunas-e-artigos/as-crises-colocam-sustentabilidade-e-esg-em-cheque-e-reforam-necessidade-de-evoluo-e-equilbrio-pleno/702259

Compartilhe