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A solução para o crédito mais barato pode estar na sua garagem

16 de outubro, 2025

Empréstimo com o veículo como garantia pode ser uma alternativa ao custo elevado de outras linhas; entenda o funcionamento e os riscos

Márcia Rodrigues

(Imagem: Freepik)

empréstimo com garantia de veículo tem crescido no Brasil como uma alternativa de crédito com juros mais baixos. Nessa modalidade, o carro quitado é usado como garantia da operação, mas continua em posse do cliente durante o pagamento, desde que as parcelas sejam mantidas em dia.

TAXA A PARTIR DE 1,39% AO MÊS

Segundo Cezar Janikian, diretor da Financeira do Santander, o processo começa com a avaliação do perfil de crédito do cliente e das características do veículo: modelo, ano, estado de conservação e situação no Detran.

“Mesmo com a garantia, há análise de crédito para confirmar a capacidade de pagamento”, explica Janikijan. Uma vez aprovado, o carro é registrado em alienação fiduciária, o que significa que permanece em posse do cliente, mas vinculado ao banco até a quitação.

POR QUE OS JUROS SÃO MAIS BAIXOS? 

Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Anefac (Associação Nacional de Executivos), quanto maior a garantia oferecida ao banco, melhores são as condições de crédito. “O carro em garantia permite prazos mais longos, valores maiores e juros mais baixos, já que o risco de inadimplência diminui para a instituição”, explica.

Outra vantagem da modalidade é permitir o empréstimo de um valor maior, segundo Oliveira. “Se não há garantia, o banco empresta R$ 10 mil, por exemplo. Com um bem com garantia de R$ 50 mil, ele pode oferecer R$ 40 mil ou até R$ 50 mil.”

O executivo da Anefac pondera, no entanto, que as contas não seriam vantajosas para um consumidor que tem um carro no valor de R$ 100 mil, emprestar R$ 10 mil, por exemplo, não quitar e perder um bem com valor superior ao que foi solicitado.

Aliás, este é outro alerta: “Se o cliente pega crédito sem garantia e não consegue pagar, fica com o nome sujo. Mas se coloca o carro como garantia, pode perder o bem em caso de inadimplência”, diz Oliveira.

Janikian confirma que a inadimplência é baixa nesta modalidade de crédito. “O índice é menor pois há um bem atrelado à dívida. Ainda assim, o banco adota medidas de prevenção, como análise de crédito, avaliação do veículo, registro da alienação fiduciária, acompanhamento da carteira e alternativas de renegociação quando necessário.”

VANTAGENS, RISCOS E QUANDO PEDIR

Entre os principais benefícios estão taxas menores, prazos mais longos e valores mais altos liberados. Em contrapartida, há o risco real de perder o veículo, como destacaram os especialistas. Além disso, podem existir custos extras, como taxas de avaliação e registro.

Para Aline Oliveira, advogada especializada em direito bancário e do consumidor, esse tipo de crédito faz mais sentido quando há uma necessidade estratégica, como trocar dívidas caras (por exemplo, a do cartão de crédito e do cheque especial) ou investir em um negócio. “Não deve ser usado de forma indiscriminada, mas sim com planejamento, já que o veículo é um patrimônio valioso e estará em risco”, conclui.

DE CONSUMIDOR IMPULSIVO A CONSERVADOR

Ainda segundo Janikian, o público que recorre a esse tipo de crédito costuma ter um carro quitado e busca condições mais vantajosas do que no crédito pessoal. O perfil vai desde consumidores conservadores, preocupados com segurança financeira, até os mais impulsivos, que enxergam na modalidade uma forma de conseguir taxas menores e prazos mais longos.

Dados do Santander mostram que a procura vem crescendo: em 2024, a produção dessa linha avançou 58% em relação ao ano anterior. Já no primeiro semestre de 2025, a variação foi de 94% frente ao mesmo período de 2024.

“Esses resultados demonstram que o produto vem ganhando força no mercado, ampliando sua relevância e se consolidando como uma alternativa cada vez mais atrativa para os clientes”, pontua o diretor do Santander.

QUAIS OS CUIDADOS ANTES DE CONTRATAR?

Janikian e Aline listam alguns cuidados que o consumidor deve tomar:

  • PLANEJAMENTO FINANCEIRO: verificar se as parcelas cabem no orçamento. O ideal é que não ultrapassem 30% da renda líquida;
  • LEITURA ATENTA DO CONTRATO: analisar taxas, prazos, custo efetivo total (CET), tarifas e condições em caso de atraso. Também é importante observar as exigências da instituição financeira, como seguros e taxas administrativas, que podem encarecer a operação;
  • AVALIAÇÃO DA REAL NECESSIDADE: avaliar se o crédito será usado de forma planejada e vantajosa. Isso pode significar investir em objetivos de médio e longo prazo ou até mesmo reorganizar dívidas mais caras, aproveitando uma taxa de juros menor;
  • COMPARE AS TAXAS: avalie se as taxas oferecidas são compatíveis com aquelas divulgadas pelo Banco Central e não acima da média;
  • CONSCIÊNCIA SOBRE A GARANTIA: ter clareza de que, em caso de inadimplência, o veículo eventualmente pode ser retomado; e
  • ESCOLHA DA INSTITUIÇÃO: optar sempre por bancos ou financeiras autorizadas pelo Banco Central.

QUAIS SÃO AS REGRAS DO BANCO CENTRAL?

Os empréstimos com garantia de veículos, conhecidos também como auto equity ou refinanciamento de carro, seguem diretrizes estabelecidas pelo Banco Central, mas dentro de uma lógica diferente de um financiamento tradicional de automóvel.

“A regra básica é que o cliente transfere o carro para o banco como alienação fiduciária, ou seja, o bem fica em nome do credor como garantia até que a dívida seja quitada”, explica Renan de Araujo Xisto, do Paschoini Advogados.

Segundo o advogado, o BC não define um percentual fixo de empréstimo sobre o valor do carro. “O que ele exige é que os bancos tenham políticas claras de crédito, façam análise da capacidade de pagamento e registrem a operação corretamente”, diz.

Na prática, a liberação varia entre 60% e 80% do valor do veículo, dependendo da idade e do estado de conservação.

O prazo do contrato costuma ser, geralmente, entre 48 e 60 meses.

CONTRATO DIFERENTE PARA IMÓVEL E VEÍCULO

Sim, existem diferenças importantes entre o contrato para imóvel e veículo, segundo Xisto. Embora ambos sejam empréstimos com garantia, a maneira usada na formalização e o próprio risco do bem envolvido mudam bastante as regras aplicadas.

No caso do crédito com imóvel, o processo é mais formal. A operação precisa ser registrada em cartório de imóveis, com contrato de alienação fiduciária, conforme a Lei nº 9.514/1997. Isso garante segurança jurídica para ambas as partes, mas torna o procedimento mais burocrático e custoso.

Em compensação, o imóvel é um bem de maior valor e menor volatilidade, o que permite prazos bem mais longos — chegando a 20 ou 30 anos — e taxas de juros mais baixas.

Já o crédito com veículo segue outra lógica. A garantia também é feita por alienação fiduciária, mas o registro ocorre no Detran, o que torna a operação mais simples e rápida. Por outro lado, como o carro perde valor de mercado de forma acelerada, os prazos são mais curtos, geralmente de até cinco anos. Os juros ficam em um patamar acima do crédito imobiliário, embora ainda abaixo do crédito pessoal sem garantia.

“Portanto, a diferença está principalmente em três pontos importantes: a formalização da garantia, no valor do bem e no risco associado. Esses fatores impactam diretamente o custo do crédito, o prazo disponível e a própria análise que o banco faz antes de liberar os recursos”, afirma Xisto.

https://fastcompanybrasil.com/money/carro-como-garantia-credito-mais-barato/

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