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PORTFÓLIO

O pulso da globalização

5 de setembro, 2022

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

André de Almeida
Advogado

Publicação: 03/09/2022

O fim do bloco socialista fez com que o início dos anos 1990 fossem marcados por um otimismo que beirava a euforia: o liberalismo econômico e os sistemas democráticos ocidentais — propulsores do desenvolvimento e da globalização — saíram vitoriosos da Guerra Fria e, definitivamente, dominariam o mundo. Fazia parte do senso comum a ideia de que era uma questão de tempo para que fossem adotados universalmente, tendo mesmo Francis Fukuyama sugerido que havíamos chegado ao fim da história. A liberdade econômica, se acreditava, ensejaria inevitáveis consequências políticas, libertando definitivamente as sociedades de qualquer forma de autoritarismo.

Assim, nas décadas seguintes, o comércio mundial cresceu exponencialmente impulsionados por diversos modelos de integração econômica objetivando a criação de grandes zonas de livre comércio, fossem uniões aduaneiras, mercados comuns ou mesmo uniões econômicas, como no caso da Europa, com maior ou menor sucesso (como o Nafta e o Mercosul, respectivamente representam de forma emblemática).

Trinta anos depois, parecemos estar vivendo um momento de reestruturação similar, mas com sinais trocados: a competição por predominância global entre os modelos econômicos norte-americano e chinês, turbinada pela pandemia e a guerra na Ucrânia, acirraram de tal forma os conflitos econômicos e geopolíticos, que muitos já preconizam o fim da globalização. O protecionismo econômico, o nacionalismo e populismo parecem ter encontrado uma nova fonte de ar. Contudo, em ambos os casos, as proclamas de nascimento e morte nos parecem exageradas, uma vez que o processo de integração econômica que caracteriza a globalização está sujeito a períodos de expansão e contração, tal como um coração, à medida que os Estados avaliam suas consequências e resultados.

Tal fato decorre da inegável perenidade dos antagônicos interesses que a estimulam ou desencorajam, pois, se de um lado a globalização traz como benesses o maior desenvolvimento e racionalidade econômica, gerando aumento da cooperação e da eficiência e aumentando as oportunidades, de outro é um fenômeno muito complexo e de difícil controle por parte dos Estados, que acentua desigualdades e injustiças, expondo vulnerabilidades. Mas se a globalização enseja riscos, estes também são inerentes às respostas antiglobalistas, em especial a estagnação econômica e a paralização das redes de produção global que sustentam a economia mundial (muito embora alguns Estados Nacionais aparentemente decidiram a enfrentá-los, como no caso da Rússia).

Entretanto, face à inevitabilidade decorrente das necessidades de ordem econômica, a globalização econômica não é uma opção, mas um imperativo na busca de um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável. Trata-se de um desafio imenso, mas inevitável, pois a vinculação da globalização ao desenvolvimento econômico é uma questão de sobrevivência (afinal temos que suprir as necessidades básicas de 8 bilhões de pessoas), dentro de um contesto de crescimento tecnológico que não se pode contido, mesmo porque ninguém o controla totalmente. Some-se a isso os efeitos do avançado estágio de globalização que criam diuturnamente novos problemas de dimensão global, como as atuais crises climática e de saúde, e chegamos à conclusão de que não há tanto espaço de manobra quanto se imagina.

As apostas estão na mesa e, nosso entendimento é que as tentativas dos Estados Nacionais de controlar a globalização não vão representar sua morte, mas um necessário, ajuste, por sinal muito bem-vindo, mas que a solução, a longo prazo, está na busca de indeclináveis consensos mínimos, resultantes de diálogos que começam com um bom aperto de mão, e a constatação que, gostemos ou não, o pulso da globalização ainda pulsa.

http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/opiniao/2022/09/03/interna_opiniao,373008/o-pulso-da-globalizacao.shtml

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