carregando...

PORTFÓLIO

Segue o jogo

9 de novembro, 2022

André de Almeida, Sócio e CEO do Almeida Advogados

Neste momento de transição política, após uma eleição tão disputada, a maior preocupação daqueles que realmente têm em consideração do futuro do Brasil se refere à necessidade de unir o país, sendo que não faltam vaticínios de que o mesmo será ingovernável, diante da enorme polarização.

Embora cientes das potenciais dificuldades enfrentadas, entendemos que, a despeito da retórica histriônica e da cacofonia imbecilizante, talvez ampliadas pelas mídias sociais e pelo isolamento causado pela pandemia, existem sinais de que as coisas possam estar se encaminhando para melhor.

Com efeito, se nos basearmos na realidade objetiva, podemos observar que, a despeito a retórica exagerada, bem como das tentativas de intimidação e desestabilização da confiança coletiva no processo eleitoral, a análise dos fatos denota que, ainda que aos trancos e barrancos, nossa democracia sobrevive e se consolida.

Assim, com a exceção de alguns poucos que, por ideologia ou interesses nada republicanos, continuam a negar a realidade e a civilidade, a imensa maioria da população brasileira aceitou o resultado das urnas de maneira absolutamente pacífica (estando ou não contentes com o mesmo) e aceitou a alternância de poder inerente a uma democracia.

De fato, por muito menos, em situação de similar polarização, parte dos eleitores norte-americanos invadiram o Capitólio num vergonhoso episódio que gerou a morte de 7 pessoas, o que, evidentemente, não aconteceu aqui, onde mesmo os mais exaltados e inconvenientes não recorreram à violência física, o que nos leva a uma comparação altamente positiva.

A reação imediata e inequívoca de diversas autoridades no âmbito dos três Poderes – no sentido de necessidade de respeito ao resultado das eleições – também ajudou a consolidar o processo democrático, tendo a população entendido que quaisquer arroubos golpistas, além de inaceitáveis do ponto de vista ético e político, não têm o apoio de nenhuma instituição relevante (incluindo, claro, as Forças Armadas).

Existem, portanto, razões para crermos que, seja por idealismo (ou quando menos puro pragmatismo), os interesses conflitantes irão se acomodar de maneira suficiente para permitir que avancemos e, nesse sentido, desejamos que nossas divisões políticas sejam não uma fonte de paralisia, mas de estímulo para uma constante fiscalização do exercício do poder pelos representantes eleitos, que serão mais do que nunca obrigados a governar com bases em compromissos, os quais, por sua natureza, são incompatíveis com extremismos ideológicos de qualquer viés.

Um pouco de racionalidade e compreensão nos leva à inevitável conclusão de que, depois de tudo que passamos, nossa prioridade deve ser matar nossa fome coletiva de normalidade.

Em suma, estamos cientes que houve faltas, mas segue o jogo.

https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/segue-o-jogo/

Compartilhe